Presidente Dilma Rousseff teve de se abster na campanha eleitoral
do CE, quando Camilo Santana e Eunício Oliveira foram candidatos a
governador
Se em âmbito nacional a relação entre PT e PMDB tem ficado cada vez
mais conflituosa, sendo agravada com a busca pela presidência da Câmara
Federal, o relacionamento no Ceará entre as duas legendas não é nada
amigável desde o último processo eleitoral, quando o petista Camilo
Santana concorreu contra o peemedebista Eunício Oliveira ao cargo de
governador do Estado. A disputa no Poder Legislativo também tem
provocado divergências ainda maiores entre as siglas em nível estadual.
As articulações feitas para uma nova etapa da briga pela ampliação do
poder de cada sigla no Estado também deve provocar consequências ainda
mais graves para a relação entre as duas agremiações que dividiram nos
últimos oito anos os espaços de maiores aliados do ex-governador Cid
Gomes e agora ocupam os dois principais papéis na disputa política entre
base e oposição no cenário cearense.
Na avaliação de representantes dos dois partidos no Ceará, a tensão
existente na relação entre ambas as agremiações faz parte do jogo
democrático e não causa risco à força que as duas legendas garantiram
nos últimos anos quanto atuaram juntas, mas especialistas em ciência
política alertam sobre como este cenário revela que o debate de ideias e
projetos foi relegado a um segundo plano para dar lugar a uma disputa
pelo poder.
"Na realidade, quando a política é privatizada, deixa de se discutir o
futuro da política para se ter apenas uma briga pela perpetuação do
poder", avaliou o cientista político Uribam Xavier, da Universidade
Federal do Ceará. Já Cristina Nobre, doutora em Sociologia do curso de
Serviço Social da Universidade Estadual do Ceará (Uece), chama atenção
de como este conflito em diferentes níveis entre PT e PMDB revela a
predominância do pragmatismo na política.
Tensa
A doutora em Sociologia compara o conflito entre PT e PMDB na esfera
federal à relação tensa entre os dois partidos em âmbito estadual ao
apontar que as disputas provocadas nos dois espaços foram motivadas pelo
mesmo pragmatismo. "A aliança do PT e PMDB é pragmática e não é
programática. Se o governador Cid Gomes tivesse apoiado Eunício, a base
estaria do mesmo jeito, mas imagino que o governador também pensou que
seria dar uma independência muito grande a Eunício Oliveira", destacou.
As visitas feitas neste mês ao Ceará de dois candidatos à presidência
da Câmara Federal, Arlindo Chinaglia e Eduardo Cunha, ratificaram como
toda a futura bancada do PMDB no Legislativo Federal, assim como membros
peemedebistas da atual legislatura, decidiram entrar na disputa para
defender a eleição do correligionário. Até Aníbal Gomes, peemedebista
mais ligado ao ministro da Educação, Cid Gomes, assegurou que seguirá a
decisão da legenda e votará em Cunha.
No Ceará, apesar de o dirigente maior da sigla no Estado, senador
Eunício Oliveira, apresentar-se como aliado compromissado com Dilma
Rousseff, a relação no Ceará com o partido da presidente da República
não é a mesma, devido ao interesse do peemedebista em se opor à gestão
do petista Camilo Santana.
Oposição
O deputado federal José Guimarães (PT) afirmou que as consequências do
processo eleitoral que têm motivado o PMDB a fazer oposição à gestão do
petista Camilo Santana também têm inflamado os peemedebistas cearenses a
demarcar uma postura de oposição à presidente Dilma Rousseff, acirrando
ainda mais o relacionamento entre as duas legendas. "Aqui tem o
agravante de o PMDB estar na oposição, causando um hiato grande no
Ceará, em que os deputados do PMDB chegam a fazer oposição a Dilma e a
Lula", ressaltou.
José Guimarães alegou, no entanto, que esta disputa entre PT e PMDB se
resume ao debate entre dois projetos divergentes para a presidência da
Câmara dos Deputados e diz não acreditar que isto significa um declínio
da aliança entre as duas agremiações. "É uma disputa democrática de duas
visões para a presidência da Câmara. O PMDB tem seis ministérios. Você
acha pouco? Claro que não é. Então, não tem razão para qualquer tensão",
argumentou o petista.
Poder
Na visão de José Guimarães, a disputa pelo poder é natural na política.
"Qual o partido que não disputa poder? Não existe partido em que não se
discuta a disputa pelo poder. Ou ele disputa poder ou acaba", pontuou.
Já o deputado peemedebista Danilo Forte justificou que o conflito entre
os dois partidos é, na verdade, consequência do desinteresse das duas
legendas a se acomodarem para se garantir no poder. "Na democracia, a
disputa é salutar, desde que ela seja transparente. Tanto PT e PMDB não
pode estar amiudado a essa conveniência de governança. Trocar cargos é
que está errado. O debate é que precisa ser estimulado", ressaltou.
A professora Cristina Nobre opina que será difícil haver um rompimento
entre PT e PMDB em nível federal assim como não espera que o partido
adote no Ceará uma postura verdadeira de oposição ao petista Camilo
Santana ao justificar que os peemedebistas historicamente necessitam do
Governo do Estado ou do Governo Federal.
"A essência do PMDB é estar no Governo, é se nutrir do Governo. O PMDB é
um partido pragmático. O PT precisa do PMDB para governar e o PMDB
precisa de qualquer Governo para continuar grande", analisou Cristina
Nobre, apesar de alertar que os peemedebistas cada vez mais lutarão por
mais espaços.
O cientista político Uribam Xavier corroborou com Cristina Nobre ao
declarar que, apesar do desgaste mais forte no Ceará, não aguarda um
postura de oposição do PMDB. "A oposição vai ser muito difícil, porque a
principal preocupação do deputado estadual é se reeleger e, para isso,
ele precisa de diálogo aberto com a máquina do Estado. Então, é muita
difícil fazer essa oposição", esclareceu.
SAIBA MAIS
Coligação
A aliança recente mais clara entre PT e PMDB no Ceará ocorreu ainda em
2006, quando os dois partidos ingressaram na mesma coligação com o
objetivo de ajudar a eleger Cid Gomes para o Governo do Estado
Estratégia
Em 2010, o compromisso entre as duas siglas no Ceará permaneceu,
alcançando o ápice na estratégia de campanha organizada para garantir a
eleição para o Senado de Eunício Oliveira (PMDB) e José Pimentel (PT)
Enfraquecimento
Na época, o ex-presidente Lula gravou um vídeo pedindo voto aos dois. A
ação ajudou a assegurar a vitória de ambos sobre Tasso Jereissati
(PSDB), enfraquecendo ainda mais os tucanos no Ceará
Disputa
Em 2014, o PMDB no Ceará abriu mão da aliança com Cid Gomes para lançar
Eunício Oliveira candidato ao Governo do Estado. Ao ser definido que um
petista seria o adversário na disputa, as duas agremiações entraram em
confronto direto no Estado, obrigando a presidente Dilma Rousseff a se
abster da campanha no Ceará para não ficar dividida entre dois aliados
ALAN BARROS
Repórter
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