quarta-feira, 24 de abril de 2013

TRAÇOS DA HISTÓRIA DE ZEQUINHA MIRANDA


TRAÇOS DA HISTÓRIA DE ZEQUINHA MIRANDA


José Pedrosa de Miranda, Zequinha Miranda ou, simplesmente, Zequinha, nosso pai, filho de Antônio Leitão de Mendonça, mais conhecido como Antônio Miranda ou “Seu Miranda”, e de Rita Pedrosa e Sá, era natural do povoado de Cachoeira de Fora, no município de Arneiroz-CE, onde nasceu em 02 de fevereiro de 1913. Logo em 1914, foi batizado na recém-construída capela de São José, da vila de Santa Catarina, hoje Catarina, onde seus pais fixaram residência definitiva, fugindo da seca grande de 1915. Aí nasceram seus irmãos Manoel Pedrosa de Miranda (Neo Miranda), in memoria, Maria Neuza Pedrosa (in memoria) e Francisca Zenilda Pedrosa, sendo esta a estrela remanescente a brilhar.

 Seu pai encaminhou Zequinha, ainda menino, para estagiar e trabalhar na loja de tecidos local do Sr. Manoel Domingues, popularmente chamado de Manoel Balbino, que o capacitou na função de caixeiro (comerciário). Como o estagiário era dotado de inteligência extraordinária, carisma e habilidades pessoais para relacionar-se bem com as pessoas, conseguiu dentro de poucos anos demonstrar competência no ofício, ao ponto de seu patrão decidir apresentá-lo aos seus credores em Fortaleza-CE, indicando-o como um jovem talentoso e honesto para iniciar o próprio comércio, sendo então seu avalista.
Após esse inestimável apoio, o muito jovem Zequinha encheu-se de coragem e instalou rapidamente a loja São José, no ramo de tecidos, em 1928, com apenas quinze (15) anos de idade. A partir daí, pôde prestar assistência digna a seus pais e apoiar seus irmãos.         


Com grande senso de responsabilidade e extrema dedicação, expandiu e consolidou  sua  atividade comercial, incluindo-se a compra e venda de algodão, mamona e de outros produtos oleaginosos, manteve bom relacionamento com seus fregueses e com os fornecedores tradicionais, na capital cearense,  Abrahão Otoch, Álvaro Dias e Jean Jereissati, durante  quase trinta e cinco (35) anos. Por sua vez, junto a esses credores, em 1951, avalizou seu cunhado José Martins de Oliveira (Zé Capistrano), irmão de sua esposa, sendo-lhe solidário, propiciando a que transformasse, com sucesso, sua pequena mercearia em loja de tecidos, na localidade de Baixio dos Fumaças, no município de Jucás-CE. Com efeito, quem se aproximava de Zequinha, recebia invariavelmente um gesto fraterno, uma palavra amiga ou até uma oportunidade de trabalho, como foram os casos dos saudosos caixeiros Expedito Geraldo de Carvalho e Francisco Nunes de Souza (Chico Alceu), que prestaram serviços na  tradicional loja de sua propriedade, por anos a fio, um em cada etapa, e de seu outro cunhado Francisco Assis Martins de Araújo, tendo este atuado no ofício de cobrança, a cavalo, no setor externo.   

       Por ser uma pessoa de grande potencial, desenvolveu também a bovinocultura de corte e leiteira em terras do Sítio Campos, inseridas já no município de Tauá-CE, originárias de herança da família de seu pai, tornando-se fazendeiro, em parceria com familiares moradores, tendo sido seu primo Miranda vaqueiro por muitos anos.

       Concomitantemente, atendendo ao seu lado romântico, dedicou-se com paixão à música, tocando o instrumento de sopro bombardino, de início sob a orientação do Sr. Francisco Pereira Lima, mestre Chico Baião, e depois do seu irmão Neo, que foi capacitado em música, em Crato-CE, com seu apoio, pelo mesmo mestre Chico e pelo professor padre Ágio Moreira, tocando muito bem o clarinete e o saxofone, e que se tornou o maestro da banda local, constituída também por outros integrantes, como Chico Domingues, Jesus Moreira, Virgílio Holanda Lima, Pedro Avelino e Chico Mariano, dentre outros. Referido grupo musical era afamado por promover festas, eventos e as famosas serenatas, desde a metade da década de 1930 até o final dos anos de 1940, tanto em Catarina, como nos municípios vizinhos, apaixonando inclusive os corações de muitas jovens. Realmente, quando a banda tocava, Catarina abria suas portas, tanto de dia, como de noite!

       No dia 11 de janeiro de 1941, Zequinha casou-se com Antônia Martins Pedrosa (Respecina), proveniente de Saboeiro-CE, não resistindo aos encantos da bela “galega” que viera em 1937, juntamente com as irmãs Rita Martins de Araújo e Josefa Martins de Araújo, a convite do irmão comerciante Antônio Capistrano Martins, que já estava estabelecido em Catarina. Com a sua vinda do município vizinho, começou o romance entre eles. E haja simpatia mútua, serenatas, o namoro e, enfim, o enlace matrimonial dos dois! Com ela teve uma união de amor, fidelidade e alegria, em paixão recíproca, até o fim de sua vida, gerando os nove (09) filhos Maria do Socorro Pedrosa Queiroz , José Wellster Pedrosa Martins, Landry Pedrosa Martins, Francisco Dermeval Pedrosa Martins, Maria de Fátima Pedrosa Dantas, Maria Gorete de Oliveira Pedrosa, Maria José Martins Pedrosa, Rita Pedrosa Martins de Miranda Moreira e Maria Verônica Pedrosa Fernandes, aos quais amou muito, deu-lhes bons exemplos e com   responsabilidade encaminhou-os nos estudos e para a vida, transformando-os em bons cidadãos.

       De total confiança da comunidade e do reverendíssimo padre Valentim Gynter, vigário de Saboeiro e depois de Arneiroz, Paróquia a que Catarina pertencia, Zequinha Miranda foi escolhido tesoureiro da então Capela de São José, depois Matriz de São José, permanecendo no cargo por quase vinte (20) anos, entre as décadas de 1950 e 1960. Nessas circunstâncias e com muita determinação e perseverança, construiu a citada Matriz, um dos símbolos do município, com o auxílio e apoio dos fiéis e demais colaboradores, demonstrando responsabilidade social, bem como comprovando ser religioso e devoto ardoroso de São José, padroeiro da cidade, como gostava de ressaltar.

       Como líder comunitário de grande articulação e mobilização, participou ativamente do desenvolvimento de Catarina, incentivando, viabilizando, promovendo e realizando obras e benfeitorias, como a cessão de uma faixa de terra para o Balneário coletivo, comumente chamado de Banheiro dos homens e das mulheres, no açude Velho da então Vila, espaço este ainda hoje utilizado como bebedouro de animais e acesso a pescadores; a cessão de outra faixa de terra para ampliação do Cemitério público, no começo de 1973; o início do loteamento em terreno próprio do antigo prado, local de corrida de cavalos, hoje rua José Pedrosa de Miranda; início do loteamento do atual bairro Vila Holanda, deixando ao centro a área destinada à praça, atualmente denominada de Praça Virgílio Holanda Lima; atuação como Juiz Especial de casamentos civis (Juiz de Paz ou Juiz Ad Hoc) nos períodos de 02/02/1968 a 03/03/1972 e de 30/08/1972 a 20/07/1973; e participação da luta pela criação do município, em 25/05/1957, emancipando-se de Saboeiro. Era, por conseguinte, um homem de  visão e integrado à comunidade, buscando efetivamente o desenvolvimento social..

       Como político, atendendo a um apelo mais popular, foi vereador na primeira legislatura, de 1959 a 1962, e vice-prefeito no período de 1963 a 1967, contribuindo bastante para a eleição dos dois primeiros prefeitos, João  Vieira Cavalcante e Lourival Paes de Andrade, respectivamente. Nesse período, o vice-prefeito era votado, tendo Zequinha Miranda obtido mais votos que o prefeito eleito Lourival. Nesses mandatos eleitorais, desenvolveu esforços para o progresso do torrão querido, deixando um legado de abnegação, exemplo e dedicação, em prol da causa pública. 

       No início dos anos de 1970, já se encontrava com a saúde fragilizada, vindo a falecer no dia 23 de outubro de 1973, numa terça-feira, precisamente às 09:40 h, aos sessenta (60) anos de idade, após um ano e oito meses de sofrimento. Sua esposa Respecina e os filhos Landry e Maria José presenciaram sua despedida, seu derradeiro suspiro, oportunidade em que tentou em angústia escrever uma mensagem ao filho jornalista presente, registrando apenas a letra “L” no papel. Era o ponto final de uma vida de retidão. Nessa data, abalaram-se profundamente as estruturas emocionais da sua esposa, que quase sucumbiu, e de seus filhos e familiares, restando em nós os sentimentos de gratidão plena e saudade imorredoura, que nos acompanham até os dias atuais.

       Finalmente, deixou-nos o nosso inesquecível Zequinha, grande vulto e referência respeitável em Catarina, que acolhia as pessoas com sua generosidade peculiar, caridade e firmeza de caráter, virtudes que praticou, com o testemunho de familiares e de muitos, ressaltando-se  também seu modo afetuoso e, ao mesmo tempo, firme de conduzir a família e de conviver bem com os munícipes, ao construir consensos e amizades. A propósito, o saudoso José Deir Mota dissera “o progresso de Catarina a ele muito ficou a dever. Era considerado pelos amigos e parentes um patriarca, um benfeitor”, em matéria jornalística de sua autoria “Catarina Sepulta Zequinha Miranda”.

       Sem dúvida, José Pedrosa de Miranda esteve à frente de seu tempo! Sua história de vida foi constituída de muitas conquistas nos campos profissional, político e pessoal, bem como de muito trabalho e de grandeza interior, deixando em Catarina uma legião de compadres, comadres, amigos e admiradores e uma vasta folha de serviços prestados ao povo, em especial, aos mais necessitados. Efetivamente, ficou conhecido pela sua honestidade, companheirismo, honra, solidariedade e  amor dedicado à sua família e à querida Catarina, tendo se credenciado, dessa maneira, merecedor do respeito e carinho de todos.


 fevereiro de 2013.

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