Em ano de eleição, Facebook e Twitter passaram a ser ferramentas de debates políticos entre eleitores
Já faz algum tempo que a Internet virou um fenômeno em comunicação,
mas, em todo o País, as próximas eleições municipais serão as primeiras
com total participação das redes sociais que mais crescem no meio:
Twitter e Facebook. No Interior do Ceará, seja com oito ou 80 mil
habitantes, praticamente todas as cidades já criaram fóruns de discussão
nesse meio. A ´politização´ vai desde o nível da baixaria entre
eleitores à criação de ideias que podem servir concretamente para o
melhor planejamento da cidade. Com a decisão do Tribunal Superior
Eleitoral de não proibir o uso dessas mídias nas eleições municipais,
crescem também os palanques virtuais.
Tem o internauta que mora longe e queria saber notícias da cidade, o
habitante local que compartilha esta notícia, e no meio disso uma boa
parcela que quer saber com quem ficará o futuro da cidade. O aumento na
inauguração de emissoras de rádio em períodos eleitorais (a maior parte
pirata) ainda é comum no Interior, mas tem crescido ainda mais a criação
de grupos de discussão no Facebook. Como a campanha eleitoral já
começou extraoficialmente, quem já escolheu seu candidatos trata de
defendê-lo, de modo a fazer denúncias ou elogios à atual administração,
conforme o interesse eleitoral. Para os indecisos ou não tão apressados,
as discussões podem servir para conhecer melhor os candidatos por meio
dos seus eleitores.
Embora a Internet ainda seja utilizada por
uma pequena parcela da população - sobretudo no Interior, onde é menor o
acesso às novas tecnologias -, é possível identificar o peso que já
representam os blogs e outras mídias sociais. Isso porque quando o
locutor de rádio não está repassando as notícias dos blogs ele próprio
acompanha as discussões nos fóruns do Facebook e leva para seus
ouvintes. E, dessa forma, a mensagem na Internet chega a quem não tem
computador ou nem mesmo sabe ler.
Os grupos de discussão, quando o
Orkut era o preferido dos internautas, não chegam perto do acesso
obtido pelos grupos do Facebook. Em Limoeiro, o grupo a inaugurar esse
segmento chama-se Nova Política Limoeirense. Uma proposta de movimento
político de jovens que começou apartidário, até realizou a Marcha
Municipal Contra a Corrupção dos políticos e, na Internet, ganhou a
adesão de mais de mil usuários. Mas perdeu credibilidade quando seus
dois criadores não só filiaram-se a um partido político como passaram a
utilizar o próprio grupo no Facebook para fazer campanha eleitoral
antecipada. Contudo, foi lá que um internauta escreveu sobre a falta de
um Diário Oficial do Município. No mesmo dia, os participantes
concluíram que é importante o retorno desse meio de publicidade e
transparência pública.
Mas as escolhas partidárias ficam mais
evidentes em outros grupos. O "Jaguaretama Justa" reúne políticos e
moradores de Jaguaretama. Na foto de capa, dez pessoas, entre elas
pré-candidatos, seguida da frase "some a união destas pessoas como a
participação popular, tal como temos feito no grupo Jaguaretama
Justa...Ficamos imbatíveis!".
Mas ao tempo em que eleitores
discutem e trocam acusações nos grupos, também compartilham informações
de interesse público, seja com um link do Tribunal de Contas dos
Municípios ou matérias de jornais sobre exemplos que possam ser seguidos
de gestão pública.
Quem se decepcionou com a "falta de novidade"
no fórum limoeirense criou ou migrou para outros grupos. O sociólogo
Marcelo Castro criou o grupo "Ideias para Limoeiro". É feita uma eleição
virtual entre os usuários, de modo a que cada um ganhe pontos a cada
sugestão de práticas de gestão pública forem aceitas.
Um
participante propõe, com exemplos, a criação de trilhas ecológicas às
margens do Rio Jaguaribe; outro sugere que as praças públicas possam ter
equipamentos para a prática de educação física. "A intenção é construir
coletivamente uma ´eleição simbólica´, paralela a eleição oficial.
Fundamentada num modelo que consideramos ideal para a política, como se
fosse a ´política que queremos ver´, longe dos vícios da fatídica
eleição oficial", diz.
E completa: "Com 23 dias de atuação
experimental da comunidade já atingimos participação considerável, são
quase 600 pessoas, mas para a nossa grande vitória se mostra na
qualidade e criatividade das ideias apresentadas até o momento, muitas
delas já repercutiram para além do Facebook".
Mais informações:
Tribunal Regional Eleitoral
Rua Jaime Benévolo, Centro Fortaleza
Telefone: (85) 3388.3500
Cuidado na publicação de informações
Limoeiro do Norte.
As ferramentas do Twitter e do Facebook já são utilizadas com fins
eleitorais. O difícil é tipificar muitos casos como crimes eleitorais.
Isso porque o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) proíbe a eleição
antecipada, mas desde que não peçam votos ou apresentem as candidaturas,
os candidatos podem mostrar a cara. Alguns políticos ouvidos pela
reportagem confessam que nem sabem usar o Facebook, mas suas assessorias
mantêm um perfil na rede social para publicar mensagens que vão de
"feliz dia das mães" à publicação de fotos em caminhadas com o "povão". E
nos grupos do Facebook sem mediação, eleitores trocam farpas e
manipulam fotos com editores de imagens. Para o bem ou para o mal.
A Justiça Eleitoral esclarece que não é a propaganda política, mas a
forma como ela é feita nas redes sociais que deve ser observada, por
estar sujeita à qualificação de crime eleitoral. A lei 9.504/97 trata da
proibição de propaganda eleitoral antecipada nas redes sociais na
Internet. Quando a campanha iniciar, oficialmente em 6 de julho, a
propaganda eleitoral propriamente dita correrá larga especialmente no
Facebook, a rede social virtual de mais comum uso no Interior do Ceará.
Qualquer
usuário do Facebook consegue criar um grupo de discussão que, em
política eleitoral, se torna um verdadeiro espaço de debate entre
candidatos e políticas públicas. "Têm coisas boas que existiam na minha
cidade que acabei sabendo pela Internet, mas têm problemas graves que eu
também soube. Sei que o importante é agir, mas para cobrar é preciso
ter conhecimento", afirma Artur Lemos, eleitor de Aracati.
Acesso
"Acredito
que a influência das redes sociais será proporcional ao nível de acesso
a elas na cidade. Em cidades médias e grandes, onde o acesso é maior, a
influência tende a ser mais considerável. Porém, um fator ainda mais
decisivo será o tanto e a forma que os cidadãos e a classe política
local se disponham a utilizar os meios virtuais. Na Internet, o clima é
de empoderamento, visto que é o próprio cidadão que constrói a pauta e a
forma de sua atuação, além de ser ele mesmo quem determina,
coletivamente, o alcance e o sucesso de uma questão", observa Marcelo
Castro, que criou um grupo para discutir projetos públicos para Limoeiro
do Norte.
Para o radialista Mário Oliveira, de Limoeiro do
Norte, é necessário cuidado no uso das informações que são veiculadas na
Internet. "A Internet ainda é algo muito novo. Localmente, busco um
cuidado muito grande na distinção entre a informação que é ou não
confiável. Geralmente utilizamos a informação dos veículos dos órgãos
oficiais e de alguns blogs, como o Diário Vale do Jaguaribe (do Diário
do Nordeste). Mas as discussões dos grupos do Facebook evitamos",
afirma.
O cientista social e professor universitário, Angelo
Felipe Castro Varela, entende que as mídias sociais nessas eleições
poderão estreitar a população do debate público, em relação a outros
espaços de participação popular. "Tanto na Capital, quanto no Interior
podem ser uma forma de reduzir esse "hiato" entre população e mundo
político de algum modo. A facilidade trazida com a interação e
compartilhamento de informações nas redes pode, sim, a meu ver, induzir
escolhas, apurar mais o senso crítico, ´moldar´, de certo modo, a
opinião do eleitor. Contudo, eu espero que as redes continuem a promover
tais debates, além das eleições uma vez que a ´política´ não se encerra
em campanhas". Angelo é também idealizador do grupo "Cultura, Política e
Democracia", no Facebook.
A presidente do Tribunal Superior
Eleitoral (TSE), ministra Carmem Lúcia, afirmou que todos os abusos
cometidos no processo eleitoral devem ser denunciados e punidos, mas
pondera que o uso das redes sociais na Internet não são regulamentadas
em vista da liberdade de expressão. Em casos de ofensas, por exemplo, a
quem se sentir atingido cabe buscar os meios legais de reivindicação dos
direitos. Mas nos grupos do Facebook e dos inúmeros blogs noticiosos
que se já tem encontrado no Interior, geralmente o "denuncismo" de um
lado é devolvido com igual teor sobre o outro. É como uma briga de
telhados de vidro. E embaixo deles, os eleitores internautas.
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