domingo, 10 de junho de 2012

Tecnologia nos municípios Redes sociais dinamizam o debate sobre eleições


Em ano de eleição, Facebook e Twitter passaram a ser ferramentas de debates políticos entre eleitores
Já faz algum tempo que a Internet virou um fenômeno em comunicação, mas, em todo o País, as próximas eleições municipais serão as primeiras com total participação das redes sociais que mais crescem no meio: Twitter e Facebook. No Interior do Ceará, seja com oito ou 80 mil habitantes, praticamente todas as cidades já criaram fóruns de discussão nesse meio. A ´politização´ vai desde o nível da baixaria entre eleitores à criação de ideias que podem servir concretamente para o melhor planejamento da cidade. Com a decisão do Tribunal Superior Eleitoral de não proibir o uso dessas mídias nas eleições municipais, crescem também os palanques virtuais.
Tem o internauta que mora longe e queria saber notícias da cidade, o habitante local que compartilha esta notícia, e no meio disso uma boa parcela que quer saber com quem ficará o futuro da cidade. O aumento na inauguração de emissoras de rádio em períodos eleitorais (a maior parte pirata) ainda é comum no Interior, mas tem crescido ainda mais a criação de grupos de discussão no Facebook. Como a campanha eleitoral já começou extraoficialmente, quem já escolheu seu candidatos trata de defendê-lo, de modo a fazer denúncias ou elogios à atual administração, conforme o interesse eleitoral. Para os indecisos ou não tão apressados, as discussões podem servir para conhecer melhor os candidatos por meio dos seus eleitores.

Embora a Internet ainda seja utilizada por uma pequena parcela da população - sobretudo no Interior, onde é menor o acesso às novas tecnologias -, é possível identificar o peso que já representam os blogs e outras mídias sociais. Isso porque quando o locutor de rádio não está repassando as notícias dos blogs ele próprio acompanha as discussões nos fóruns do Facebook e leva para seus ouvintes. E, dessa forma, a mensagem na Internet chega a quem não tem computador ou nem mesmo sabe ler.

Os grupos de discussão, quando o Orkut era o preferido dos internautas, não chegam perto do acesso obtido pelos grupos do Facebook. Em Limoeiro, o grupo a inaugurar esse segmento chama-se Nova Política Limoeirense. Uma proposta de movimento político de jovens que começou apartidário, até realizou a Marcha Municipal Contra a Corrupção dos políticos e, na Internet, ganhou a adesão de mais de mil usuários. Mas perdeu credibilidade quando seus dois criadores não só filiaram-se a um partido político como passaram a utilizar o próprio grupo no Facebook para fazer campanha eleitoral antecipada. Contudo, foi lá que um internauta escreveu sobre a falta de um Diário Oficial do Município. No mesmo dia, os participantes concluíram que é importante o retorno desse meio de publicidade e transparência pública.

Mas as escolhas partidárias ficam mais evidentes em outros grupos. O "Jaguaretama Justa" reúne políticos e moradores de Jaguaretama. Na foto de capa, dez pessoas, entre elas pré-candidatos, seguida da frase "some a união destas pessoas como a participação popular, tal como temos feito no grupo Jaguaretama Justa...Ficamos imbatíveis!".

Mas ao tempo em que eleitores discutem e trocam acusações nos grupos, também compartilham informações de interesse público, seja com um link do Tribunal de Contas dos Municípios ou matérias de jornais sobre exemplos que possam ser seguidos de gestão pública.

Quem se decepcionou com a "falta de novidade" no fórum limoeirense criou ou migrou para outros grupos. O sociólogo Marcelo Castro criou o grupo "Ideias para Limoeiro". É feita uma eleição virtual entre os usuários, de modo a que cada um ganhe pontos a cada sugestão de práticas de gestão pública forem aceitas.

Um participante propõe, com exemplos, a criação de trilhas ecológicas às margens do Rio Jaguaribe; outro sugere que as praças públicas possam ter equipamentos para a prática de educação física. "A intenção é construir coletivamente uma ´eleição simbólica´, paralela a eleição oficial. Fundamentada num modelo que consideramos ideal para a política, como se fosse a ´política que queremos ver´, longe dos vícios da fatídica eleição oficial", diz.

E completa: "Com 23 dias de atuação experimental da comunidade já atingimos participação considerável, são quase 600 pessoas, mas para a nossa grande vitória se mostra na qualidade e criatividade das ideias apresentadas até o momento, muitas delas já repercutiram para além do Facebook".

Mais informações:
Tribunal Regional Eleitoral
Rua Jaime Benévolo, Centro Fortaleza
Telefone: (85) 3388.3500
Cuidado na publicação de informações

Limoeiro do Norte.
As ferramentas do Twitter e do Facebook já são utilizadas com fins eleitorais. O difícil é tipificar muitos casos como crimes eleitorais. Isso porque o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) proíbe a eleição antecipada, mas desde que não peçam votos ou apresentem as candidaturas, os candidatos podem mostrar a cara. Alguns políticos ouvidos pela reportagem confessam que nem sabem usar o Facebook, mas suas assessorias mantêm um perfil na rede social para publicar mensagens que vão de "feliz dia das mães" à publicação de fotos em caminhadas com o "povão". E nos grupos do Facebook sem mediação, eleitores trocam farpas e manipulam fotos com editores de imagens. Para o bem ou para o mal.
 A Justiça Eleitoral esclarece que não é a propaganda política, mas a forma como ela é feita nas redes sociais que deve ser observada, por estar sujeita à qualificação de crime eleitoral. A lei 9.504/97 trata da proibição de propaganda eleitoral antecipada nas redes sociais na Internet. Quando a campanha iniciar, oficialmente em 6 de julho, a propaganda eleitoral propriamente dita correrá larga especialmente no Facebook, a rede social virtual de mais comum uso no Interior do Ceará.

Qualquer usuário do Facebook consegue criar um grupo de discussão que, em política eleitoral, se torna um verdadeiro espaço de debate entre candidatos e políticas públicas. "Têm coisas boas que existiam na minha cidade que acabei sabendo pela Internet, mas têm problemas graves que eu também soube. Sei que o importante é agir, mas para cobrar é preciso ter conhecimento", afirma Artur Lemos, eleitor de Aracati.

Acesso
"Acredito que a influência das redes sociais será proporcional ao nível de acesso a elas na cidade. Em cidades médias e grandes, onde o acesso é maior, a influência tende a ser mais considerável. Porém, um fator ainda mais decisivo será o tanto e a forma que os cidadãos e a classe política local se disponham a utilizar os meios virtuais. Na Internet, o clima é de empoderamento, visto que é o próprio cidadão que constrói a pauta e a forma de sua atuação, além de ser ele mesmo quem determina, coletivamente, o alcance e o sucesso de uma questão", observa Marcelo Castro, que criou um grupo para discutir projetos públicos para Limoeiro do Norte.

Para o radialista Mário Oliveira, de Limoeiro do Norte, é necessário cuidado no uso das informações que são veiculadas na Internet. "A Internet ainda é algo muito novo. Localmente, busco um cuidado muito grande na distinção entre a informação que é ou não confiável. Geralmente utilizamos a informação dos veículos dos órgãos oficiais e de alguns blogs, como o Diário Vale do Jaguaribe (do Diário do Nordeste). Mas as discussões dos grupos do Facebook evitamos", afirma.

O cientista social e professor universitário, Angelo Felipe Castro Varela, entende que as mídias sociais nessas eleições poderão estreitar a população do debate público, em relação a outros espaços de participação popular. "Tanto na Capital, quanto no Interior podem ser uma forma de reduzir esse "hiato" entre população e mundo político de algum modo. A facilidade trazida com a interação e compartilhamento de informações nas redes pode, sim, a meu ver, induzir escolhas, apurar mais o senso crítico, ´moldar´, de certo modo, a opinião do eleitor. Contudo, eu espero que as redes continuem a promover tais debates, além das eleições uma vez que a ´política´ não se encerra em campanhas". Angelo é também idealizador do grupo "Cultura, Política e Democracia", no Facebook.

A presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministra Carmem Lúcia, afirmou que todos os abusos cometidos no processo eleitoral devem ser denunciados e punidos, mas pondera que o uso das redes sociais na Internet não são regulamentadas em vista da liberdade de expressão. Em casos de ofensas, por exemplo, a quem se sentir atingido cabe buscar os meios legais de reivindicação dos direitos. Mas nos grupos do Facebook e dos inúmeros blogs noticiosos que se já tem encontrado no Interior, geralmente o "denuncismo" de um lado é devolvido com igual teor sobre o outro. É como uma briga de telhados de vidro. E embaixo deles, os eleitores internautas.

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