A prefeita Luizianne Lins, presidente estadual do PT, em entrevista à TV
Diário em março, disse que o seu partido faria oposição ao Governo Cid
Gomes (PSB) caso houvesse rompimento da aliança para a sucessão em
Fortaleza. A declaração da prefeita foi manchete do Diário do Nordeste,
na oportunidade, gerando desconforto para o governador e seus aliados.
Agora
que o rompimento foi confirmado, com o PSB não aceitando a indicação do
petista Elmano Freitas, para ser o candidato a prefeito, deputados do
PT contestam o discurso da prefeita e afirmam que a legenda precisa
trabalhar para manter a parceria com o governador em âmbito estadual,
aconteça o que acontecer em Fortaleza.
"A prefeita não decide
nada só. Existe um partido para discutir. Se ela deu essa declaração, é
um equívoco dela. Não podemos olhar só para Fortaleza", disse ontem
Camilo Santana, um dos deputados do PT que formavam no secretariado de
Cid Gomes. "Mesmo que saiam duas candidaturas no primeiro turno (uma do
PT e outra do PSB), podemos ter aliança no segundo turno", acrescenta
Nelson Martins, outro deputado petista que estava como secretário do
Governo estadual. Os dois ex-secretários destacam que PT e PSB têm
alianças formadas e a caminho da formalização em diversos municípios
cearenses, como Sobral e Juazeiro do Norte, além de integrarem a
coligação que detém o poder estadual e federal.
Parceiros"Caso
aqui em Fortaleza especificamente não seja possível uma aliança no
primeiro turno, vamos continuar sendo parceiros em outros municípios e
aliados em nível estadual, e vamos verificar como se dará o segundo
turno. Temos que deixar as portas abertas para pensar no futuro",
salienta Camilo. Nelson segue a linha: "Não podemos resumir a aliança à
questão específica de Fortaleza. Mesmo que não estejamos juntos no
primeiro turno, temos que manter uma boa relação entre PT e PSB. Podemos
ter aliança no segundo. Tudo pode acontecer. Temos que preservar a
aliança em nível estadual e federal".
Segundo Nelson, o
ex-presidente Lula poderá conversar com o governador Cid Gomes e a
prefeita Luizianne Lins até o fim deste mês, o que dá ao deputado a
esperança da possibilidade de um acordo ainda no primeiro turno.
"Independentemente disso, a aliança estadual e nacional deve ser mantida
pelo bem do Ceará. Muitos investimentos estruturantes dependem do apoio
do Governo Federal".
O ex-secretário afirma que a migração da
base para a oposição ao Governo estadual não foi discutida em nenhum
momento dentro do PT. "Eu não vejo razão para isso. Não é o fim do mundo
o PT ter candidato e o PSB ter também. O PC do B e o PDT, partidos da
aliança, não vão ter? É uma coisa natural. Não vejo razão para fazer
disso um motivo de rompimento".
O deputado Dedé Teixeira é outro a
garantir que o PT nunca considerou a hipótese de fazer oposição ao
Governo Cid Gomes. "Não há essa discussão no partido. Eu digo, como
militante petista, que não há esse clima, pelo contrário. Várias
alianças estão em curso no Estado com o PSB e o PMDB. Fortaleza terá
segundo turno, e aí será o segundo tempo de toda essa discussão". Se o
candidato do partido do governador passar para o segundo turno, conforme
Dedé, o PT "com certeza" o apoiaria.
O grupo político do
deputado Professor Pinheiro tinha reunião marcada para ontem à tarde
para discutir o ultimato de Cid ao PT e soltar uma nota a respeito. Ele,
que até semana passada era secretário de Cultura do Estado, não quis se
pronunciar antes do encontro. Rachel Marques, que completa a bancada
petista na Assembleia, espera a decisão da cúpula estadual. "O
governador nos deixou num impasse. Para nós não é conveniente o
rompimento da aliança. Isso aí será discutido pelas instâncias do
partido", disse ela, evitando opinar.
Sucessão municipal Landim fala sobre o rompimento
O
anúncio de que o PSB não irá apoiar o candidato petista à Prefeitura de
Fortaleza não havia sido comentado na tribuna da Assembleia Legislativa
até ontem, quando o deputado Welington Landim (PSB), líder do bloco
PT-PSB na Casa, resolveu tocar no assunto e colocar o posicionamento da
sua legenda. O parlamentar elogiou o posicionamento do governador Cid
Gomes e criticou a postura da prefeita Luizianne Lins (PT) e do ex-líder
do governo, Antônio Carlos (PT).
Para Landim, Luizianne Lins
está se colocando como vítima, assegurando não haver a intenção de
ninguém ser algoz de quem quer que seja. O parlamentar fez questão de
dizer que Cid Gomes sempre foi coerente na discussão da manutenção da
aliança para esta eleição em Fortaleza e que sempre quis continuar
aliado ao PT.
O líder do bloco fez questão de ressaltar que o PSB
não vetou o nome de ninguém, embora muitos representantes do partido
tenham dito que não aceitavam o nome de Elmano de Freitas como
candidato. "Coloco aqui para que não paire nenhuma dúvida: não vetamos
nome de A ou B, não vetamos o nome de ninguém. Queremos um projeto novo,
uma renovação, uma possibilidade de modelo diferente para a principal
cidade do Ceará", destacou o deputado.
Para Landim, quem falar em
veto está querendo se colocar como vítima. "Não aceitamos vítima.
Passou o tempo de chorar. O povo precisa de um programa sério para que
se tenha um rumo e metas definidas", afirmou.
Segundo Landim,
apesar das tentativas do governador de demonstrar que gostaria de
permanecer unido com o PT nesta eleição, os petistas não discutiram com
os aliados o nome do candidato. "Foi uma decisão praticamente do grupo
ligado à prefeita. Tanto é verdade que o Pinheiro foi derrotado na
proposta que queria levar para frente a discussão de exaurir todas as
possibilidades de entendimento", disse.
SuficienteUma
dos indícios de que Cid Gomes queria o PT como aliado, conforme
analisou, foi nomear para três das mais importantes secretarias do
Estado, os petistas Francisco Pinheiro, Camilo Santana e Nelson Martins.
Outra demonstração de que o governador apostava nessa aliança, segundo o
deputado, foi ter nomeado, para líder do governo na Assembleia, um
parlamentar suplente dos mais ligados à prefeita Luizianne. Ele disse
ainda que seu partido tem quadros suficientes para apresentar candidato.
Landim
disse que não esperava a atitude de Antônio Carlos de se demitir da
função de secretário da Cultura através de uma mensagem por celular,
considerando ser essa uma atitude imatura. "Coisa de imaturidade
política", opinou.
Nenhum parlamentar, nem do PT nem do PSB,
comentaram o pronunciamento de Welington Landim. Ontem, os quatro
secretários exonerados (Ivo Gomes, Francisco Pinheiro, Nelson Martins e
Camilo Santana) participaram da sessão, mas não trataram desse assunto
no plenário.
Vereadores devem rebater críticasA
bancada do PT na Câmara Municipal de Fortaleza não irá "se calar"
diante de ataques do PSB ao modelo de gestão da prefeita Luizianne.
Segundo vereadores petistas, a legenda não pretende adotar uma postura
de oposição ao Governo do Estado, mas assumirá uma atitude "firme"
diante de novas investidas contra a gestão do PT em Fortaleza.
Na
última reunião do PSB, que oficializou o interesse do partido em ter
candidatura própria na Capital, o governador Cid Gomes criticou o modelo
de administração petista em Fortaleza, que classificou como "exaurido".
Essa posição, corroborada pelos vereadores socialistas presentes no
encontro, descontentou lideranças do PT.
Clareza"Se
isso é posicionamento do PSB como um todo, eu não sei. Mas nós do PT
temos clareza de que a direção política da prefeita está correta. É
claro que em uma renovação nós vamos aperfeiçoar e corrigir erros dos
programa, mas a direção política central de focar investimento nos mais
pobres e reduzir desigualdades, nós achamos corretíssima", avalia o
líder do PT na Casa, Guilherme Sampaio.
Ele evita comentar a
questão da candidatura própria do PSB, argumentando que ainda não há
definição final sobre o assunto, mas garante que o PT não "levará
desaforo para casa" dos socialistas durante a campanha eleitoral. Já o
vereador Ronivaldo Maia (PT), líder do Governo, diz que o PT respeita a
definição do PSB e espera que seja respeitada a decisão sobre a
candidatura de Elmano de Freitas.
Sobre a declaração de Luizianne
de que o PT faria oposição à Cid em caso de rompimento, vereadores
petistas avaliam que essa seria uma opinião pessoal de Luizianne, não
existindo nenhuma orientação partidária neste sentido. "A definição que
existe é apenas a da tática eleitoral interna do partido. A relação com o
governo Cid é uma discussão para depois das eleições", declara o
presidente da Câmara Municipal, Acrísio Sena (PT).