O Ceará está com o mais baixo volume do ano nos reservatórios de
água. Segundo levantamento feito pelo O POVO com base em reportagens
publicadas desde o início do ano, os 28,2% registrados ontem pela
Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh) são o pior índice
desde janeiro. E a tendência é o volume total só reduzir até o fim do
ano por causa da falta de chuvas neste semestre, conforme o chefe de
gabinete da companhia, Berthyer Peixoto. Com perdas para a evaporação e o
consumo em todo o Estado, em menos de dois meses, as perdas no sistema
foram de 541 bilhões de litros de água.
De acordo com
Berthyer, “é difícil” definir qual seria o “percentual de segurança
hídrica mínimo para o Estado” porque o Castanhão, por exemplo, chegará a
2015 com água suficiente para o ano enquanto a Bacia do Curu já amarga
baixos percentuais. O chefe de gabinete lembra que o Ceará viveu “algo
parecido”, quando comparados os volumes totais, nos anos de 1992 e 1993.
“Mas não tínhamos o Castanhão e o reservatório que abastecia Fortaleza
estava com 8%”, cita. Os anos 2000 e 2001 também foram complicados. “Mas
tínhamos reserva menor e menos capacidade de transporte de água”,
compara.
A companhia faz simulações para decidir quais medidas
serão tomadas para garantir o abastecimento. “É através das simulações
que se decide fazer ou não adutora emergencial”, exemplifica. Conforme
os estudos, diz Berthyer, é possível que o volume em dezembro chegue a
20% ou menos. O foco do Estado deve ser, assim, “acompanhar o quadro, se
preparar e avaliar o pior cenário para executar as medidas mais
eficazes.”
Açudes
No terceiro ano
seguido de estiagem no Ceará, 105 dos 149 açudes públicos estão com
volumes inferiores a 30% da capacidade, o que corresponde a 70% dos
reservatórios em situação crítica. Fora da quadra chuvosa, a tendência é
que os volumes sigam caindo. Historicamente, o segundo semestre é de
pouca nebulosidade no Ceará. A incidência dos raios solares faz com que o
fenômeno da evaporação leve parte da água dos reservatórios de volta à
atmosfera. Para os açudes do Ceará, isto significa que o volume de um
açude diminui, em média, 2,20 metros do espelho d’água por ano, segundo
Ricardo Adeodato, diretor de Operações da Cogerh.
O
fenômeno natural já leva parte do recurso hídrico independente do
consumo em cada açude. Quanto maior o espelho d’água, maior a perda. “O
ideal seria consumir o máximo do espelho d’água para diminuir o que se
perde para a evaporação. Mas o nosso Estado não tem segurança hídrica
para isso. Não sabemos como são as chuvas do ano seguinte”, explica
Adeodato. Uma das esperanças é a transposição do rio São Francisco, que
deve reforçar o abastecimento do Estado nas bacias do Jaguaribe e
Metropolitana. O projeto do Governo Federal tem 62,4% de execução e está
previsto para ficar pronto em 2015.
Por enquanto, a situação
é de instabilidade para o consumo. A maior parte da água armazenada no
Ceará vai para a agricultura. O consumo é considerado alto. Como
exemplo, o perímetro irrigado Tabuleiro de Russas recebe 2,2 mil litros
por segundo. Mas atualmente, os perímetros de Curu-Paraipaba e
Pentecoste estão praticamente parados e recebem água apenas para manter o
que já foi plantado, conforme Ricardo Adeodato.
O sistema de
gestão dos recursos hídricos é reforçado para abastecer a Região
Metropolitana, com 3,5 milhões de habitantes e 90% da atividade
industrial. Em Pacatuba, o açude Gavião está com 93,8% da capacidade.
Uma situação de segurança “artificial”, segundo Adeodato. Isto porque o
reservatório serve de chegada para o sistema do Eixão das Águas: uma
transposição das águas do Castanhão (Alto Santo), abastecido pelo rio
Jaguaribe. Do Gavião, 90% da água segue para suprir a Região
Metropolitana e 10% vai para o polo industrial do Pecém.
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