segunda-feira, 30 de abril de 2012


Crianças, idosos e adultos de uma forma geral, que moram nas comunidades de Caiçara, Pau Ferro e Riacho do Mel, em Madalena, estão bebendo água imprópria para o consumo humano. Os animais, por seu lado, depois de buscarem água de boa qualidade, acabam tendo que se contentar com o lodaçal que restou em algumas lagoas. Um laudo assinado pelo Serviço Autônomo de Água e Esgoto de Boa Viagem (Saae), após análise de água coletada no açude Queto, atesta que "a amostra não atende aos padrões bacteriológicos de potabilidade para o consumo humano". Apesar da grave advertência, não resta outra alternativa à família do agricultor José do Vale Maciel, a não ser consumir o líquido. "Há quatro meses, estamos bebendo dessa água. É uma questão de sobrevivência. Ou ela ou nada", reconhece Maciel. O agricultor conta que a única coisa que coloca antes de consumir é "um pouco de cloro deixado pelos agentes de saúde. Mas, não dá muito resultado. Por aqui, quase todos têm problemas de diarreia. A gente até quer deixar de beber essa água, aí pensa assim: se é de morrer de sede, é melhor arriscar".
A mulher de Maciel reforça a sua observação. "A gente sabe que a água é cheia de bactéria, micróbio e sebosidade. Como não temos condição de ferver, o negócio é beber e depois de algum tempo tomar remédio para a verme". Thaís Maciel, de 5 anos, sobrinha do casal, costuma consumir quase todos os dias a água e diz que ela é normal. "É boa e mata a sede da gente", resume a criança. Situação mais grave ainda é enfrentada pelos animais que buscam em vão água de boa qualidade na região. Depois de muita procura, só resta tomar um líquido esverdeado com lama à beira do que sobrou do açude dos Tanques, onde podem ser vistas diversas carcaças de tartarugas secas. O presidente do Conselho de Assentamento de Pau Ferro, Hélio Leite Firmino, afirma que "a situação é desesperadora. Há 23 anos moro no local e nunca tinha visto algo igual. A situação dos nossos animais é de dar dó. Muitos perambulam por até dois dias à procura de água". Conforme Airton, o problema, agravado pela seca, poderia ser resolvido caso fosse construída uma adutora de 8 Km com a respectiva estação de tratamento para levar água potável às comunidades. "O governo estadual já garantiu os recursos, no valor de R$ 600 mil, para realizar a obra. Agora falta apenas a liberação", informa o líder rural. O secretário de Agricultura de Madalena Antônio Eurivando Rodrigues Vieira reconhece que a situação no município é desalentadora. "Nunca tinha visto isso. Praticamente não temos água. Nas outras secas, a gente perdia a safra mas tinha o que beber. Hoje, as cisternas estão secas e as torneiras, vazias". O Açude Grande, que abastece o município e tem capacidade para 35 milhões de m³, tem hoje pouco mais de 12 milhões. "Temos que torcer para que chova". ´Mané magro´ é utilizado para o abastecimento Independência Uma das principais dificuldades enfrentadas pelas populações do Interior no período de seca é o deslocamento para se conseguir água potável. Na comunidade de Ematuba, no município de Independência, parte do problema foi solucionado graças à criatividade dos sertanejos, que improvisaram uma geringonça bastante prática chamada de "mané magro", numa alusão ao inseto que é também conhecido como bicho pau. A dona de casa Francisca Benedita de Araújo, 41 anos, incorporou à rotina se deslocar até o açude São José, a seis quilômetros de distância da sua casa. Ela cumpre a tarefa duas vezes ao dia, enquanto o esposo e os três filhos cuidam da lavoura. "Não é moleza não. Mas, esse "mané magro" é quem me ajuda. A cada viagem, trago para casa 100 litros de água que serve não só para a gente utilizar na lavagem de roupa e da casa como também para consumir e cozinhar. Ele é prático e muita gente na redondeza possui um", avaliza dona Francisca. A sertaneja protesta contra a falta d´água. "Isso não podia mais estar acontecendo no Brasil. É que os responsáveis demoram muito para atender quem é pobre. Espero que no próximo ano isso não mais se repita". O "mané magro", além de prático, não custa praticamente nada, pois é feito da reciclagem de sucata e duas rodas de bicicleta. Para quem não tem a disposição de dona Francisca para ir buscar água em Ematuba, a alternativa é adquirir água dos carros-pipas particulares. Cada carrada custa R$ 70,00. "Se a gente for esperar pela chuva, a coisa fica ruim", garante o morador Chico Antônio, de 54 anos. O diretor do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Independência, Antônio Gonçalves dos Santos, cita uma situação curiosa, se não fosse trágica, para os moradores da comunidade não serem servidos por cisternas. "O poder público não prioriza a colocação de cisternas por aqui pelo fato de existir um projeto para a colocação de uma adutora para trazer água do São José para cá. Ocorre que isso nunca saiu do papel", explica. Enquanto a tão aguardada adutora não chega, muitos moradores, a exemplo de dona Francisca, continuam sem contar com água encanada. Na verdade, as residências daquela localidade não possuem sequer encanação e torneiras.

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