Foto - Áquila Leite |
No que depender
do governo, os cerca de 150 mil servidores estaduais do Ceará terão que
aguardar até o início de junho para terem uma definição sobre o
reajuste de seus salários, que se arrasta desde janeiro. Isso porque,
nesta segunda-feira, o governador Camilo Santana e alguns de seus
secretários se reuniram, no Palácio da Abolição, com representantes de
cerca de 30 categorias de servidores e pediram mais dois meses para
considerarem um eventual aumento, alegando que não há condições
financeiras para o
Estado fazer isto no momento. Insatisfeitos, os trabalhadores não descartam entrar em greve geral em breve.
"Na prática,
não conseguimos nada do que viemos buscar aqui, que era o percentual de
reajuste e a forma de pagamento. O governo alega que não tem condições
agora, que a economia não melhorou. Quem garante que vai melhorar daqui a
dois meses?", questiona Eliene Uchoa, coordenadora geral do Fórum
Unificado das Associações e Sindicatos dos Servidores Públicos Estaduais
do Ceará (Fuaspec).
Possível paralisação
Segundo ela, os
trabalhadores podem optar por uma greve geral caso o governo não reveja
sua posição. "Solicitamos os dados financeiros do Estado para análise
e, na quinta-feira, decidiremos o que fazer. Muitas categorias estão com
assembleia marcada, portanto não descartamos uma greve geral. Para
isso, é preciso decidir com as bases. São mais de 30 entidades", diz.
Ainda de acordo
com o Fuaspec, os servidores estaduais exigem reajuste de 12,67%, o que
corresponde à inflação de 10,67% e mais 2% de ganho real. O governo
estadual, por sua vez, diz que as finanças públicas não permitem que os
salários sejam reajustados no mesmo percentual da inflação do ano
passado, tendo em vista que uma reposição nos índices inflacionários
superior a 10% representaria um acréscimo de R$ 1 bilhão por ano na
folha do Estado.
Justificativa para o prazo
O titular da
Secretaria da Fazenda do Ceará (Sefaz-CE), Mauro Filho, disse, ontem à
noite, que o novo prazo para um posicionamento do governo quanto ao
reajuste para os servidores estaduais foi necessário devido à
imprevisibilidade do cenário político e econômico atual.
O secretário da
Fazenda também destacou que só agora o Estado poderá avaliar como as
receitas irão se comportar diante das novas alíquotas do Imposto sobre
Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), que passaram a valer no
início do mês passado sobre itens como gasolina, bebidas alcoólicas,
ultraleves, armas, fumo e cigarro.
"Apesar de ter
entrado em vigor no mês de março, ela só vai ser caixa para mim no dia
22 de abril. Nós pedimos mais dois meses, abril e maio, para ver
efetivamente como a receita vai se comportar diante do novo quadro de
medidas que foram tomadas para o incremento dessa receita, para a gente
sentar de novo e discutir que percentual será esse", defendeu o
secretário da Fazenda do Ceará.
Cortes x Receitas
O titular da
Sefaz disse que, "para manter o Estado ajustado" no ano passado, foi
necessário o corte de R$ 597 milhões de despesas correntes e de R$ 444
em investimentos em 2015. Apesar disso, o Estado enfrenta dificuldades
de arrecadação, sobretudo em relação à receita proveniente de repasses,
que teve queda de 4,4% nos três primeiros meses deste ano em relação a
igual período do ano passado. Em relação às receitas próprias, houve
crescimento de 6,4% no mesmo período, o que resulta em uma receita
líquida de 2,4%.
Além disso, "as
despesas com a folha já aumentaram 6,1% em janeiro, fevereiro e março
(em comparação com igual período do ano passado)", salientou.
Mauro Filho
também ressaltou que o Estado despendeu neste ano R$ 293 milhões em
melhorias para os servidores, que incluem reajuste de remuneração mínima
estadual em 10,67%, reajuste de auxílio alimentação e ascensões
funcionais analisadas até março de 2016, dentre outros. Há ainda
desembolsos que já estão sendo feitos ou que serão aportados no próximos
meses, que incluem R$ 108 milhões voltados à homologação de concursos e
outros R$ 111 milhões direcionados a concursos públicos em andamento.
Assim, ressalta o secretário, o Estado já tem neste ano o
comprometimento de R$ 560 milhões em despesas com servidores.
Forma de pagamento
Um dos pontos
que mais tem causado angústia entre os servidores estaduais, além do
índice propriamente dito do reajuste, é a forma de pagamento do mesmo.
Para Ana Maria Ferreira, diretora do Sindicato dos Fazendários do Ceará
(Sintaf), "não há justificativa para o parcelamento". "Exigimos o índice
de uma vez só, pois a nossa defasagem vai se aprofundar. Três meses já
se passaram e o governo quer mais dois. Portanto, o pagamento tem que
ser integral, retroativo a janeiro", ressalta.
Dentro do
governo, porém, está praticamente certo que qualquer melhoria salarial,
quando for definida, só poderá ser em duas parcelas, a exemplo do que
fez a Prefeitura de Fortaleza.
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