Procuradoria pede prisão de Lula em caso do tríplex
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O Ministério Público de
São Paulo pediu a prisão preventiva do ex-presidente Lula no processo
que investiga a suspeita de crimes de lavagem de dinheiro e falsidade
ideológica relacionados ao tríplex no Guarujá (SP). A medida foi
fortemente criticada por petistas, que chamaram os promotores de
"irresponsáveis" e com motivações "claramente ideológicas e políticas". O
PSDB, principal partido de oposição, reagiu com cautela.
A juíza Maria Priscila Veiga Oliveira,
da 4ª Vara Criminal de São Paulo, decidirá se decreta ou não a prisão
de Lula e se torna réus outros 16 acusados pelo MP na ação. A juíza não
tem prazo para tomar essa decisão.
Na denúncia divulgada
ontem, os promotores Cássio Conserino, José Carlos Blat e Fernando
Araújo escreveram ser "imprescindível o decreto da prisão preventiva, em
razão da conveniência da instrução criminal" e por entenderem que o
ex-presidente poderá "movimentar sua 'rede' violenta de apoio, para
evitar que o processo crime que se inicia tenha seu curso natural". Os
promotores pediram, ainda, a prisão do ex-presidente da OAS, Léo
Pinheiro, do ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, e de outras quatro
pessoas investigadas na ação da Cooperativa Habitacional dos Bancários
de São Paulo (Bancoop).
Segundo o s promotores,
Lula tentou ocultar a propriedade do imóvel, que está registrado em nome
da OAS. O ex-presidente nega ter adquirido o tríplex.
Os autores da denúncia
citam a probabilidade de ameaças a vítimas e testemunhas e prejuízo na
produção das demais provas do caso. Dizem ser "amplamente provadas
manobras violentas" de Lula e de seus apoiadores, "com defesa pública e
apoio até mesmo da presidente da República, medidas que somente tem por
objetivo blindar o denunciado", segundo o texto.
O ex-presidente estava
em reunião, em São Paulo, quando soube do pedido de prisão pelo
presidente do Instituto Lula, Paulo Okamoto. Segundo o líder do governo
no Senado, Humberto Costa (PE), o petista reagiu com "total
tranquilidade".
'Sem motivação política'
Ontem, os promotores
negaram que a denúncia tenha motivação política. Lula foi denunciado por
lavagem de dinheiro e falsidade ideológica. Caso haja condenação, as
penas para os dois crimes somadas variam de 4 a 13 anos de prisão.
A ex-primeira-dama
Marisa Letícia e o filho do casal, Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha,
foram denunciados por lavagem de dinheiro. Outras 12 pessoas foram
denunciadas.
"O MP não trabalha com
calendário político. É pautado em prazos judiciais, pouco importando se
esse procedimento tenha qualquer tipo de repercussão política ou
social", disse Blat.
'Fragilidade'
O advogado de Lula,
Cristiano Zanin Martins, declarou que a denúncia não "tem nenhum fato".
Segundo ele, os promotores agiram com base em uma tese. Martins voltou a
dizer que a família Lula nunca foi dona do tríplex. "Eles tentam
atribuir a propriedade com base em pessoas que foram ouvidas e acham que
o apartamento é do Lula. Os promotores substituíram o título de
propriedade do cartório por afirmações de pessoas. Essa peça é de uma
grande fragilidade".
"Se a denúncia tem essa
fragilidade, o que dirá o pedido de prisão. Se existir mesmo só vai ser
prova cabal que esse trabalho foi feito de forma parcial", acrescentou a
defesa.
Em nota, o Instituto
Lula afirma que o promotor Cássio Conserino, deu "mais uma prova de sua
parcialidade". O Instituto diz ainda que a medida é "mais uma triste
tentativa" de usar o cargo para "fins políticos".
No fim da noite de
ontem, a presidente Dilma Rousseff convocou reunião com o primeiro
escalão do governo para tratar do caso. Ministros chegaram a sugerir que
Lula fosse nomeado para a Casa Civil. Como ministro, ele teria foro
privilegiado e só poderia ser processado no Supremo Tribunal Federal
(STF).
Para a oposição, o
pedido de prisão "é inusual" e não tem embasamento jurídico sólido. "Não
é porque temos divergências políticas que vou querer para ele algo
diferente do que quero para qualquer cidadão", disse o vice-presidente
do PSDB, deputado Carlos Sampaio (SP).
Saiba mais
DENÚNCIA
Os promotores sustentam
que Lula tentou ocultar a propriedade do imó- vel no Guarujá, que está
registrado em nome da empreiteira OAS.
CRIMES
O ex-presidente é
acusado de lava- gem de dinheiro e falsidade ideoló- gica, crimes que
podem render de 3 a 10 anos de prisão e de 1 a 3 anos, respectivamente.
Sua mulher, Marisa Letícia, e um dos filhos do casal, Fábio Luís Lula da
Silva, também são acusados de lavagem de dinheiro.
OUTROS ACUSADOS
Além de Lula, também foi
pedida a prisão preventiva do ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto,
do empreiteiro Léo Pinheiro e dois executivos da OAS, e de outros dois
investigados do caso Bancoop; Cooperativa Habitacional dos Bancários de
São Paulo.
O QUE DIZ A PROMOTORIA
Os promotores alegam que
a prisão de Lula é necessária para garantir "a ordem pública, a
instrução do processo e a aplicação da lei penal"
MEDIDA CAUTELAR
A prisão preventiva não é
uma pena aplicada antecipadamente ao trânsito em julgado, é uma medida
cautelar. Por esse motivo, não viola a garantia constitucional de
presunção de inocência se a decisão for devidamente motivada e a prisão
estritamente necessária.
LAVA-JATO
Na sexta (4), o petista
foi levado a depor coercitivamente na 24ª fase da Lava-Jato, que
investiga se ele teria recebido propinas no esquema de corrupção da
Petrobras por meio das obras que empreiteiras investigadas fizeram no
tríplex e em um sítio em Atibaia frequentado por ele.
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