Nos últimos quatro meses, quando a crise econômica se aprofundou e o
noticiário imobiliário sobre o ex-presidente se generalizou, o potencial
de voto de Lula caiu de 41% para 33%. Hoje, só um terço dos eleitores
brasileiros diz que votaria com certeza (19%) ou poderia votar (14%) no
petista. O resto não respondeu ou disse não conhecê-lo o suficiente para
opinar.
Sua maior perda de cacife eleitoral foi no Nordeste, onde, pela primeira
vez em dez anos, o potencial de voto do ex-presidente (47%) se equivale
tecnicamente à sua rejeição (48%).
Se uma onda gravitacional antecipasse 2018 para amanhã, Lula estaria condenado eleitoralmente? Depende do ponto de vista.
Pela ótica petista, Lula, mesmo sob bombardeio, mantém 19% de eleitores
que “com certeza” votariam nele, o que é sempre um atalho para chegar ao
segundo turno de qualquer eleição. Nenhum outro presidenciável tem um
capital inicial desse tamanho.
Na perspectiva anti-petista, Lula seria praticamente “inelegível”, pois,
como 61% dizem que não votariam nele de jeito nenhum, o petista não
alcançaria a necessária maioria absoluta dos votos válidos para
conquistar o terceiro mandato.
Há que se relativizar ambas as conclusões.
Os 19% de votos “certos” de Lula hoje eram 23% quatro meses atrás e 33%
há menos de dois anos. Vê-se que “certeza” não é um conceito absoluto em
política. A convicção do eleitor é tão volúvel quanto o PMDB. E como a
crise econômica só faz piorar, a curva descendente de Lula pode afundar
ainda mais.
Um petista poderia argumentar que, do mesmo modo, a rejeição também pode
diminuir, como diminuiu em 2006. Em tese, sim, mas reverter uma
tendência é sempre mais difícil. E a sangria de Lula dessa vez é muito
maior do que na época do mensalão.
O melhor argumento dos lulistas é que o eleitor não rejeita apenas Lula.
A rejeição aos seus potenciais adversários varia dos 42% de Marina
Silva aos 52% de José Serra, com Aécio Neves (44%), Geraldo Alckmin
(47%) e Ciro Gomes (45%) no meio – incluídos aí os 7% de eleitores que
rejeitam todos os seis.
Toda eleição é uma comparação. E, em especial no segundo turno, uma comparação negativa: a escolha do mal menor.
Portanto, tão importante quanto quem o eleitor mais aprecia é quem ele
mais rejeita. Hoje, há muito mais demonstrações públicas de ódio a Lula
do que a qualquer outro presidenciável. Tais amostras representam todo o
eleitorado? As pesquisas conhecidas não comparam intensidades de ódios
múltiplos.
O que a pesquisa Ibope mostra é que a rejeição a Lula foi a única que
cresceu desde outubro. A de Marina caiu oito pontos; a de Ciro, sete; a
de Alckmin, cinco; as de Aécio e Serra oscilaram negativamente, dentro
da margem de erro.
Porém, nenhum dos cinco conseguiu transformar essa menor rejeição em
simpatizantes. Todos continuam com taxas de votos “certos” e
“potenciais” equivalentes às que tinham em outubro: 41% (13% de “com
certeza” mais 28% de “poderia votar”) para Marina, 40% (15% + 25%) para
Aécio, 32% (8% + 24%) para Serra, 30% (23% + 7%) para Alckmin, e 19% (4%
+ 15%) para Ciro.
Onde foram parar os eleitores que deixaram de rejeitá-los? No muro. Agora, dizem que não os conhecem o suficiente para opinar.
Afinal, Lula está vivo eleitoralmente? Ele tem 13% de eleitores
exclusivos, que votariam “com certeza” só nele, contra 8% de Aécio e 7%
de Marina. O petista pode estar “inelegível”, mas ainda tem cacife para
influir decisivamente na eleição.
Estadão
Estadão
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