Pesquisa aponta que, em Fortaleza, as mulheres consomem mais álcool do que os homens
A morte
por coma alcoólico de Natália Regiele Tabosa, de 21 anos, alerta para
uma situação grave na Capital cearense: 49,4% dos jovens possuem o
hábito de tomar bebida alcoólica desde os 14 anos. O dado faz parte da
pesquisa "Retratos de Fortaleza Jovem", realizada pela Prefeitura em
parceria com o Instituto da Juventude Contemporânea (IJC).
Segundo
a Prefeitura, 21% dos usuários de álcool atendidos nos Caps AD estão
entre 20 e 29 anos. Destes, 60,7% também fumam Foto: Tuno Vieira
A
pesquisa ouviu 1.734 sujeitos e foi distribuída pelos bairros em função
da proporção de jovens do sexo masculino e feminino, nas faixas de
idade de 15 a 19 anos, de 20 a 24 anos e de 25 a 29 anos. O trabalho foi
realizado há quatro anos, mas, de acordo com o poder público municipal,
ainda traduz a realidade.
Outro dado que chama atenção é o
percentual de mulheres frequentadoras de bares e restaurantes da Capital
e que gostam de tomar bebidas alcoólicas. Do total de entrevistadas,
65,8% tomaram seu primeiro gole entre os 15 e 24 anos, contra 55,3% dos
homens da mesma faixa etária. Dos 20 aos 24 anos, elas também são
maioria, com 49,5% contra 33,6% deles. Na casa dos 25 aos 29 anos, a
proporção também é grande: 59,4 (mulheres) e 33,6% (homens).
É
ilegal vender bebidas alcoólicas para menores de 18 anos. O titular da
Coordenadoria da Infância e Juventude, desembargador Francisco Suenon
Bastos Mota, afirma que a fiscalização em bares, restaurantes e casas de
shows é feita semanalmente.
Ao todo, são 150 agentes
voluntários, organizados em grupos de trabalho, que fazem a busca
especialmente durante os fins de semana.
A coordenadora de Saúde
Mental, Álcool e Outras Drogas da Secretaria Municipal de Saúde (SMS),
Rane Félix, informa que a Prefeitura, a partir dos Centros de Atenção
Psicossocial (Caps), fez outra pesquisa sobre o assunto.
De
acordo com o estudo, 88,6 dos 12,5 mil pacientes atendidos no Caps AD
(Álcool e outras Drogas) são usuários de álcool. Desse universo, 21%
estão entre 20 e 29 anos de idade. Do total, 60,7% bebem e fumam e 34,8%
ingerem bebidas alcoólicas associadas com o crack.
Segundo o
sociólogo Paulo Campos Júnior, os dados são preocupantes, porque a
ingestão de álcool nesta faixa etária pode causar sérios danos. "A
adolescência é a fase final da maturação do organismo. O uso de
substâncias psicoativas podem levar à morte de neurônios pela
toxicidade", analisa.
Euforia
A estudante Maria Santos (nome fictício), de 21 anos, diz que bebe para ficar mais "desinibida para as paqueras".
Sobre
a questão, a psicóloga Tereza Sampaio avalia que quem começa a beber
ainda jovem acredita que, quanto mais consumir bebidas, mais alegre e
relaxado vai ficar. "No entanto, não é isso que acontece. O álcool é uma
substância que não obedece à lógica simples de quanto mais melhor",
ressalta.
Os efeitos das bebidas alcoólicas acontecem em duas
fases. Na primeira delas, o álcool age como um estimulante e deixa a
pessoa eufórica, mas, à medida que as doses vão aumentando, passa-se à
segunda fase, na qual começam a surgir os efeitos depressores do álcool,
levando à diminuição da coordenação motora, dos reflexos e à
sonolência.
FIQUE POR DENTRO
Coma alcoólico teria matado Natália Regiele
Natália
Regiele, 21 anos, foi encontrada morta em um apartamento na Avenida
Abolição no dia 29 de julho desse ano. O laudo cadavérico apontou como
causa de morte uma parada respiratória em razão de intoxicação química
por ingestão de álcool. O documento descartou sinais de violência e
indicou, ainda, a ausência de substâncias entorpecentes.
Rena
Gomes Moura, responsável pelo caso, considera a possibilidade de três
crimes: negligência por falta de socorro, homicídio culposo e estupro de
vulnerável.
Hábito de fumar também preocupa
Não
só o uso do álcool chama a atenção dos especialistas em saúde pública.
Segundo a pesquisa "Retratos de Fortaleza Jovem", 14,5% dos 1.734
entrevistados têm o hábito de fumar tabaco. Desse total, 25% começaram a
partir dos 13 anos de idade. Outros 28,6% usam cigarro comum desde os
14 e 15 anos, e 21,6% iniciaram aos 16 e 17 anos.
Segundo o
Instituto Nacional de Câncer (Inca), a promoção e o marketing de
produtos derivados do tabaco junto ao público jovem são essenciais para
que a indústria do fumo consiga manter e expandir suas vendas.
Ainda
de acordo com o órgão, o tabaco é a segunda droga mais consumida entre
os jovens, no mundo e no Brasil, e isso se deve às facilidades e
estímulos para obtenção do produto, entre eles o baixo custo. A isto,
somam-se a promoção e publicidade.
Iniciativa
No
Ceará, ontem, Dia Mundial de Combate ao Fumo, a Secretaria Estadual da
Saúde (Sesa), promoveu ação para alertar consumidores de shoppings para
os males do cigarro. O objetivo é informar que o cigarro contém mais de
4.700 substâncias. Muitas delas utilizadas em produtos e situações que
os fumantes jamais imaginariam. É o caso da naftalina, que mata baratas,
e é uma das substâncias contidas no cigarro.
Para chamar a
atenção dos consumidores, os educadores em saúde da Sesa farão exposição
de frascos gigantes contendo as substâncias usadas na produção dos
cigarros que trazem prejuízos à saúde e à qualidade de vida da
população. Os educadores em saúde realizarão ainda exames para medir a
quantidade de monóxido de carbono - gás presente nos escapamentos dos
carros - nos pulmões. Afeta quem traga e quem respira a fumaça,
substituindo o oxigênio na corrente sanguínea.
Com a ideia de
promover saúde e de prevenir o tabagismo, despertando interesse para
hábitos saudáveis, os educadores farão, também, apresentação de frutas
com os poderes de cada uma no bem-estar, seguida de distribuição.
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