Há quase oito anos, Fortaleza é administrada por uma mulher. O mandato
da prefeita Luizianne Lins (PT) termina no final deste ano e, para os
próximos quatro anos, a cidade não terá uma mulher no seu comando. Isso
porque, das dez candidaturas postas nesta eleição, nenhuma é do gênero
feminino. Falta à mulher mais poder de decisão na política cearense?
Para
a pós-doutora em Sociologia e professora da Universidade Federal do
Ceará (UFC), Celecina Veras, não adianta analisar a atual participação
feminina na política sem levar em consideração o passado. É bastante
recente a entrada da mulher na vida política do País. Celecina Veras
lembra que foi apenas em 1932 que as mulheres tiveram direito de
depositar seu voto nas urnas e também de colocar seus nomes à disposição
dos partidos para serem candidatas.
Entretanto, somente em 1995,
o Brasil teve sua primeira governadora, Roseane Sarney (PMDB), eleita
no Maranhão. Além disso, somente agora, em 2010, o povo brasileiro
elegeu a primeira presidenta do País, Dilma Rousseff (PT). Celecina
Veras observa que o papel da mulher na política cresceu, mas não
alcançou muitos patamares.
Apesar de termos uma figura feminina à
frente do País, no Legislativo, por exemplo, a quantidade de mulheres
eleitas é bem inferior ao número de homens. No Ceará, dos 46 deputados
estaduais eleitos, seis são mulheres, enquanto que na Câmara Municipal
de Fortaleza, dos 41 vereadores, apenas três são do sexo feminino.
Motivos
Uma
pesquisa realizada em 2010, pela Fundação Perseu Abramo, por meio de
seu Núcleo de Opinião Pública, e em parceria com o SESC, apontou que os
três principais motivos de se ter menos mulheres que homens na política
são: machismo, falta de interesse das mulheres em participar da política
e preconceito ou discriminação.
Celecina Veras acredita que a
estrutura dos partidos ainda é muito machista. De novo ela chama para o
passado, analisando que sempre foi ensinado que a política era um espaço
de homens e as mulheres nunca foram educadas para a disputa. À elas,
observa a professora, sempre coube o ambiente privado e nunca o público.
"Temos uma luta grande dentro de casa. Fomos educadas para o casamento,
por isso a dificuldade de conciliar política e casamento, política e
filhos", considera.
Mas a pesquisa revela outros dados curiosos,
de que 70% das mulheres e 49% dos homens concordam que a política seria
melhor se tivessem mais mulheres em postos importantes. Também aponta
que para 78% das mulheres e 76% dos homens, as mulheres estão preparadas
para governar o País, os estados e as cidades.
Conforme a
professora, a pesquisa mostra que houve um crescimento da importância da
participação feminina na política e a importância da política na vida
das mulheres. Um dado positivo da pesquisa, atesta, é o fato de estar
aumentando o número de mulheres que estão passando a confiar na
capacidade feminina para a política, pois antes, esclarece Celecina
Veras, era grande o índice de rejeição das mulheres em relação às
candidaturas femininas.
No início da matéria, a professora
informou que a primeira governadora do País só foi eleita em 1995. Sem
dúvida é um marco para as mulheres, mas há de se perceber que o vínculo
político entre a imagem de Roseana Sarney e do pai, José Sarney (PMDB),
era e ainda é bem forte, atenta Celecina Veras.
Não que isso seja
uma regra, de que as mulheres que conquistam espaços importantes na
política só conseguiram porque tiveram ao lado a figura masculina seja
do pai, do marido ou do filho. Luizianne Lins, destaca a professora, é
uma prova de que as mulheres podem, sozinhas, obter sucesso no meio
político.
A deputada Eliane Novais (PSB) garante, mesmo que não
tivesse ao lado do irmão, Sérgio Novais (PMDB), teria conseguido chegar
onde chegou. Ela reconhece que o respeito e a confiança que os eleitores
têm pelo irmão são transferidos para ela, mas deixa claro que sua
vitória nas urnas só foi possível porque ela nunca mudou o discurso e
continua a defender os mesmos princípios desde quando participava dos
movimentos sindicais e integrava a diretoria colegiada do Mova-se, o
sindicato dos servidores do Estado.
Cultural
Para
a parlamentar, o fato da política brasileira ainda ter uma participação
muito tímida da mulher é uma questão cultural. "Ao longo da história,
nunca tivemos oportunidades", salienta. Um exemplo disso, aponta a
parlamentar, é o fato do Legislativo cearense não ter, em sua Mesa
Diretora, uma figura feminina. Se depender da deputada, isso vai mudar.
Além
das Mesas Diretoras dos Legislativos, há outros espaços na política que
as mulheres ainda tem de lutar para garantir vez e voz. É o caso das
executivas e diretórios partidários. Por enquanto, alguns partidos
colocam como obrigatória a participação da mulher em suas diretorias,
enquanto isso deveria ocorrer de maneira natural.
No entendimento
da deputada Rachel Marques (PT), isso já é um avanço. Ela acredita que,
por hora, os partidos devam sim obrigar um percentual de mulheres em
suas executivas e diretórios, para no futuro essa organização de poder
nas legendas, entre homens e mulheres, ocorrer de forma natural.
A
vereadora Eliana Gomes (PCdoB) entrou na política a partir de sua
participação na presidência da Federação de Bairros e Favelas de
Fortaleza e já tem 25 anos de filiação ao PCdoB. Está em seu primeiro
mandato de vereadora e vai tentar a reeleição, com dificuldade, afirma.
Para
a mulher, admite, é bem mais delicado garantir financiamento para a
campanha além de outro detalhe, a dupla jornada da mulher que, ao chegar
em casa, ainda tem de se dedicar aos filhos e ao marido.
A
deputada Patrícia Saboya (PDT), eleita a primeira senadora do Ceará, em
2002, concorda que a política ainda é um espaço majoritariamente
masculino e acrescenta que a sociedade ainda é bastante machista. Mas,
para ela, isso não impede das mulheres participarem da política.
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