emergência da unidade é chamada pelos funcionários de "piscinão de Ramos", devido à superlotação
O
nível de superlotação da emergência do Hospital Geral de Fortaleza
(HGF) atinge estado crítico. De acordo com o hospital, 104 pacientes
eram atendidos ontem, nos corredores da unidade. A situação é delicada,
tanto que os pacientes e os próprios funcionários apelidaram o local de
"piscinão de Ramos".
Nos corredores da unidade, se amontoam pessoas com doenças de
diferentes tipos e, cada vez que um precisa deixar a maca para se
ausentar a fim de usar o banheiro, por exemplo, corre o risco de perder a
vaga FOTO: NATINHO RODRIGUES
Acompanhantes dos pacientes
relatam que, vista de cima, a impressão que se tem é de que a emergência
é um "piscinão". A diferença é que, ao invés de água, existe uma
centena de pacientes amontoados, uns em cima dos outros, sendo atendidos
de forma precária e desumana.
A equipe de reportagem é proibida
de ter acesso ao local e até mesmo de fotografar do lado de fora da
unidade. O clima entre os funcionários é de tensão. Mas, apesar de toda
"segurança" para esconder a situação caótica, não precisa ir longe. Da
porta de entrada dava para ver, ontem, através do vidro, uma maca com
uma idosa que aguardava atendimento antes da recepção.
A todo
instante, ambulâncias, vindas de vários municípios do Estado,
estacionavam trazendo pessoas com os mais diversos tipos de problemas de
saúde. Sobral, Barreira e Canindé eram algumas delas. Carros
particulares também chegavam a todo instante, praticamente todos com
problemas emergenciais. Entre os usuários, o sentimento é de indignação
com o descaso do poder público e com a forma precária de acomodação e de
atendimento aos pacientes.
A doméstica Alcina Alves, 49, tentava
encontrar, ontem, na emergência, uma prima que sofreu uma trombose, mas
teve de sair, após passar mal. "Isso é uma calamidade, que Deus me dê
saúde para não ter nunca que me internar aqui. A situação está horrível,
muito lotado. A gente não tem onde pisar, as pessoas estão umas em cima
das outras. Parece formiga num formigueiro. Já passei por muito
hospital lotado, mas que nem esse eu nunca tinha visto", comenta. Mesmo
sem encontrar a prima, ela teve de sair por causa do mal estar.
A
costureira Graça Costa, 40, é outra que se diz revoltada com a
superlotação do HGF. Ontem, ela estava acompanhando a sogra, que sofreu
um Acidente Vascular Cerebral (AVC) e estava na sala de ressuscitação.
"Médico tem, mas as pessoas são atendidas no chão. Estava lá dentro (da
emergência), mas me colocaram para fora, porque eu reclamei da
situação", conta.
Macas
Familiares
denunciam a falta de macas e cadeiras para os pacientes. Francisco
Cléber Chaves, 42, motorista da prefeitura de Barreira, região Norte do
Estado, disse que o hospital só recebe o doente se deixarem a maca. Por
isso, perderam três delas. Já aconteceu, inclusive, de ter de trazer um
paciente para a Capital num colchão, porque não tinham mais nenhuma
maca.
A comerciante Elizanete Farias Pereira, 38, afirma que a
situação está tão crítica que, no último domingo, foram dar banho em seu
filho, que está "internado" nos corredores do HGF, e quase levaram a
maca dele. "Os outros acompanhantes tiveram que segurar, senão os
funcionários levavam", denuncia.
Cenário de guerra
José
Maria Pontes, presidente do Sindicato dos Médicos do Ceará (Simec),
comenta que o HGF é um bom hospital, mas que o seu grande problema é a
emergência, que está um caos.
"Claro que é melhor ficar lá do que
morrer em qualquer lugar, mas é muito chocante o visual de quem vai à
emergência do Hospital Geral. Os pacientes, de várias enfermidades,
ficam todos juntos. É uma maca alta e outra baixa e, por causa da
superlotação, a gente tem que andar com cuidado para não pisar nos
pacientes. Parece hospital de guerra", frisa o presidente do Simec.
Mas
o que considera mais crítico e degradante é o fato de os pacientes
terem, muitas vezes, de fazer o asseio no próprio corredor, em meio a
outros tantos pacientes e acompanhantes. "É uma falta de respeito com o
ser humano", afirma Pontes. O sindicalista cita que, em dez anos, 44
hospitais que tinham convênio com o Sistema Único de Saúde (SUS)
fecharam. Critica, ainda, a construção do Hospital da Mulher, quando se
precisa muito mais de um hospital de trauma.
Rommel Araújo,
coordenador geral da emergência do HGF, afirma que a emergência da
unidade está sempre em situação crítica e que essa é uma realidade de
conhecimento de todos, já que é abordado, frequentemente, pela mídia.
Ainda assim, reclama que nada é feito pelos gestores da área de saúde. O
coordenador atribui a superlotação dos hospitais terciários à falta de
leitos de retaguarda. "Não temos leitos clínicos, cirúrgicos e nem de
UTI".
Acrescenta que 87% dos pacientes atendidos na emergência do
Hospital Geral são da Capital e que o setor primário e secundário
precisam se organizar para que os hospitais terciários possam atender os
pacientes de forma humanizada.
Cenário
87% dos
pacientes atendidos na emergência do Hospital Geral são de Fortaleza,
conforme dados de Rommel Araújo, coordenador geral da emergência
44
hospitais, em dez anos, que tinham convênio com o Sistema Único de
Saúde fecharam, diz o presidente do Sindicato dos Médicos, José Maria
Pontes
Nenhum comentário:
Postar um comentário