O Diretório Nacional do PMDB decidiu nesta terça-feira (29), por aclamação, romper oficialmente com o governo da presidente Dilma Rousseff. Na reunião, a cúpula peemedebista também determinou que os seis ministros do partido e os filiados que ocupam outros postos no Executivo federal entreguem seus cargos.
O vice-presidente da República e presidente nacional do PMDB, Michel Temer, não participou da reunião que oficializou a ruptura com o governo sob o argumento de que não desejava "influenciar" a decisão. No entanto, ele teve participação ativa na mobilização pelo desembarque do partido e passou toda a segunda-feira (28) em reuniões com parlamentares e ministros do PMDB em busca de uma decisão “unânime”.
Comandada pelo primeiro vice-presidente do PMDB, senador Romero Jucá (PMDB-RR), a reunião durou menos de cinco minutos. Após consultar simbolicamente os integrantes do partido, Jucá decretou o resultado da votação.
"A partir de hoje, nessa reunião histórica para o PMDB, o PMDB se retira da base do governo da presidente Dilma Rousseff e ninguém no país está autorizado a exercer qualquer cargo federal em nome do PMDB", enfatizou.
Após a reunião, Jucá disse que, com a decisão, o PMDB deixava bem clara a sua posiçào em relação ao governo e disse que quem quiser tomar uma decisão individual terá que avaliar as consequências.
"A partir de agora, o PMDB não autoriza ninguém a exercer cargo no governo federal em nome do partido. Se, individualmente, alguém quiser tomar uma posição, vai ter que avaliar o tipo de consequência, o tipo de postura perante a própria sociedade. Para bom entendedor, meia palavra basta. Aqui, nós demos hoje a palavra inteira", afirmou.
Ministros
Na reunião desta terça, 29, os peemedebistas decidiram que os ministros da legenda que descumprirem a determinação de deixar o governo poderão sofrer sanções, como expulsão do partido.
Por meio da assessoria, o Ministério da Saúde informou que Marcelo Castro permanecerá "por enquanto" tanto no cargo de ministro quanto no PMDB e aguardará os "próximos passos do partido", como o prazo que será dado pela legenda para que os ocupantes de cargos no Executivo deixem as vagas. Pela decisão aprovada pelo diretório, os peemedebistas devem sair "imediatamente".
Até esta segunda-feira, o PMDB ocupava sete cadeiras no primeiro escalão do governo Dilma. No entanto, Henrique Eduardo Alves, um dos peemedebistas mais próximos de Michel Temer, se antecipou à decisão da cúpula e entregou seu cargo a Dilma.
Dilma também lançou mão dos últimos esforços para tentar resgatar o apoio do partido. Na manhã de segunda, ela chamou ao seu gabinete no Palácio do Planalto seis dos sete ministros do PMDB para avaliar o cenário. No entanto, no fim do dia, Henrique Alves, um dos presentes ao encontro, apresentou a sua carta de renúncia.
Apesar do desembarque, Temer continuará na Vice-Presidência da República sob o argumento de que foi eleito pela população na chapa de Dilma e de que não ocupa, portanto, cargo de submissão à presidente.
Líder do PT acusa Temer de golpista
Logo após o Diretório do PMDB aprovar o rompimento com o governo Dilma Rousseff, o líder do PT na Câmara, Afonso Florence (BA), afirmou nesta terça-feira (29) que o vice-presidente Michel Temer antes “posava de jurista”, mas agora é “golpista”. Para o deputado do PT, Temer é um dos principais “patrocinadores” do impeachment de Dilma.
“Tem golpe hoje no Brasil e o nome dele agora é impeachment. E tem de patrocinador Michel Temer, que posava de jurista e agora é golpista”, disse Florence, em entrevista ao lado de outros parlamentares do PT e do deputado Ivan Valente (PSOL-SP).
A decisão do PMDB desta terça aumenta a crise política do governo e é vista como fator importante no processo de impeachment de Dilma. Há a expectativa de que, diante da saída do principal sócio do PT no governo federal, outros partidos da base aliada também desembarquem.
Atualmente, o PMDB detém a maior bancada na Câmara, com 68 deputados federais. O apoio ao governo, porém, nunca foi unânime dentro da sigla e as críticas contra Dilma se intensificaram com o acirramento da crise econômica e a deflagração do processo de afastamento da presidente da República.
Diante da decisão do Diretório do PMDB, o PT pretende trabalhar por adesões individuais de parlamentares do partido, enquanto tenta manter o apoio dos integrantes de outras legendas da base aliada. Afonso Florence destacou que nem todas as lideranças peemedebistas estiveram na reunião do Diretório e afirmou aguardar que os ministros do partido se manifestem.
“Até onde acompanhei pela imprensa nem todo o PMDB estava lá. Temos que esperar o resultado político. Há ministros e deputados que tem que se pronunciar. O governo, o PT e todos os defensores da democracia rechaçam o impeachment. Esperamos que parlamentares do PMDB na Câmara também o façam”, disse o líder do PT.
Oposição busca votos para afastar a Presidente Dilma
Deputados da oposição decidiram em uma reunião nesta terça-feira (29) criar uma “força-tarefa” para monitorar a tendência de votos no processo de impeachment e convencer indecisos a se posicionarem pelo afastamento da presidente
Dilma Rousseff.
De acordo com o deputado Mendonça Filho (DEM-PE), cada parlamentar oposicionista recebeu a tarefa de procurar colegas de outros partidos para dialogar sobre o impeachment.
“Estamos criando uma grande força-tarefa para procurar os deputados por bancada e estado e conseguir os votos dos indecisos. No nosso cálculo, temos mais que os 342 votos necessários, mas queremos ter uma margem boa. E tem muito deputado que está sob pressão do governo e acaba se abrindo com outros deputados”, ressaltou Mendonça Filho.
Participaram da reunião deputados de PSDB, PPS, DEM, Solidariedade e, inclusive, de alguns partidos que integram a base aliada, como PSD e PTB.
Ainda segundo Mendonça Filho, a ideia é de que o processo de impeachment seja votado no plenário da
Câmara no dia 14 de abril.
Antes de ser submetido ao plenário principal, o pedido de afastamento da presidente ainda terá que ser analisado na comissão especial criada para proferir parecer pela continuidade ou não das investigações.
“Havia uma ideia de fazer a votação num domingo, mas avaliamos que o processo de impeachment não pode ser visto como uma partida de futebol. Mesmo que a votação ocorra durante a semana, o Brasil vai parar para assistir”, enfatizou o deputado do DEM.
*Matérias extraídas do site G1