TRAÇOS DA HISTÓRIA DE ZEQUINHA MIRANDA
José Pedrosa
de Miranda, Zequinha Miranda ou, simplesmente, Zequinha, nosso pai, filho de
Antônio Leitão de Mendonça, mais conhecido como Antônio Miranda ou “Seu
Miranda”, e de Rita Pedrosa e Sá, era natural do povoado de Cachoeira de Fora,
no município de Arneiroz-CE, onde nasceu em 02 de fevereiro de 1913. Logo em
1914, foi batizado na recém-construída capela de São José, da vila de Santa
Catarina, hoje Catarina, onde seus pais fixaram residência definitiva, fugindo
da seca grande de 1915. Aí nasceram seus irmãos Manoel Pedrosa de Miranda (Neo
Miranda), in memoria, Maria Neuza Pedrosa (in memoria) e Francisca Zenilda
Pedrosa, sendo esta a estrela remanescente a brilhar.
Seu pai encaminhou Zequinha, ainda menino, para estagiar e trabalhar na
loja de tecidos local do Sr. Manoel Domingues, popularmente chamado de Manoel
Balbino, que o capacitou na função de caixeiro (comerciário). Como o estagiário
era dotado de inteligência extraordinária, carisma e habilidades pessoais para
relacionar-se bem com as pessoas, conseguiu dentro de poucos anos demonstrar
competência no ofício, ao ponto de seu patrão decidir apresentá-lo aos seus
credores em Fortaleza-CE, indicando-o como um jovem talentoso e honesto para
iniciar o próprio comércio, sendo então seu avalista.
Após esse inestimável apoio, o muito jovem Zequinha encheu-se de coragem
e instalou rapidamente a loja São José, no ramo de tecidos, em 1928, com apenas
quinze (15) anos de idade. A partir daí, pôde prestar assistência digna a seus
pais e apoiar seus
irmãos.
Com grande senso de responsabilidade e extrema dedicação, expandiu e
consolidou sua atividade comercial, incluindo-se a compra e venda
de algodão, mamona e de outros produtos oleaginosos, manteve bom relacionamento
com seus fregueses e com os fornecedores tradicionais, na capital
cearense, Abrahão Otoch, Álvaro Dias e Jean Jereissati, durante
quase trinta e cinco (35) anos. Por sua vez, junto a esses credores, em 1951,
avalizou seu cunhado José Martins de Oliveira (Zé Capistrano), irmão de sua
esposa, sendo-lhe solidário, propiciando a que transformasse, com sucesso, sua
pequena mercearia em loja de tecidos, na localidade de Baixio dos Fumaças, no
município de Jucás-CE. Com efeito, quem se aproximava de Zequinha, recebia
invariavelmente um gesto fraterno, uma palavra amiga ou até uma oportunidade de
trabalho, como foram os casos dos saudosos caixeiros Expedito Geraldo de
Carvalho e Francisco Nunes de Souza (Chico Alceu), que prestaram serviços
na tradicional loja de sua propriedade, por anos a fio, um em cada etapa,
e de seu outro cunhado Francisco Assis Martins de Araújo, tendo este atuado no
ofício de cobrança, a cavalo, no setor externo.
Por ser uma pessoa de grande potencial, desenvolveu também a
bovinocultura de corte e leiteira em terras do Sítio Campos, inseridas já no
município de Tauá-CE, originárias de herança da família de seu pai, tornando-se
fazendeiro, em parceria com familiares moradores, tendo sido seu primo Miranda
vaqueiro por muitos anos.
Concomitantemente, atendendo ao seu lado romântico, dedicou-se com paixão à
música, tocando o instrumento de sopro bombardino, de início sob a orientação
do Sr. Francisco Pereira Lima, mestre Chico Baião, e depois do seu irmão Neo,
que foi capacitado em música, em Crato-CE, com seu apoio, pelo mesmo mestre
Chico e pelo professor padre Ágio Moreira, tocando muito bem o clarinete e o
saxofone, e que se tornou o maestro da banda local, constituída também por outros
integrantes, como Chico Domingues, Jesus Moreira, Virgílio Holanda Lima, Pedro
Avelino e Chico Mariano, dentre outros. Referido grupo musical era afamado por
promover festas, eventos e as famosas serenatas, desde a metade da década de
1930 até o final dos anos de 1940, tanto em Catarina, como nos municípios
vizinhos, apaixonando inclusive os corações de muitas jovens. Realmente, quando
a banda tocava, Catarina abria suas portas, tanto de dia, como de noite!
No dia 11 de janeiro de 1941, Zequinha casou-se com Antônia Martins
Pedrosa (Respecina), proveniente de Saboeiro-CE, não resistindo aos encantos da
bela “galega” que viera em 1937, juntamente com as irmãs Rita Martins de Araújo
e Josefa Martins de Araújo, a convite do irmão comerciante Antônio Capistrano
Martins, que já estava estabelecido em Catarina. Com a sua vinda do município
vizinho, começou o romance entre eles. E haja simpatia mútua, serenatas, o
namoro e, enfim, o enlace matrimonial dos dois! Com ela teve uma união de amor,
fidelidade e alegria, em paixão recíproca, até o fim de sua vida, gerando os
nove (09) filhos Maria do Socorro Pedrosa Queiroz , José
Wellster Pedrosa Martins, Landry Pedrosa Martins, Francisco Dermeval
Pedrosa Martins, Maria de Fátima Pedrosa Dantas, Maria Gorete de
Oliveira Pedrosa, Maria José Martins Pedrosa, Rita Pedrosa
Martins de Miranda Moreira e Maria Verônica Pedrosa Fernandes, aos quais
amou muito, deu-lhes bons exemplos e com responsabilidade
encaminhou-os nos estudos e para a vida, transformando-os em bons cidadãos.
De total confiança da comunidade e do reverendíssimo padre Valentim Gynter,
vigário de Saboeiro e depois de Arneiroz, Paróquia a que Catarina pertencia,
Zequinha Miranda foi escolhido tesoureiro da então Capela de São José, depois
Matriz de São José, permanecendo no cargo por quase vinte (20) anos, entre as
décadas de 1950 e 1960. Nessas circunstâncias e com muita determinação e
perseverança, construiu a citada Matriz, um dos símbolos do município, com o
auxílio e apoio dos fiéis e demais colaboradores, demonstrando responsabilidade
social, bem como comprovando ser religioso e devoto ardoroso de São José,
padroeiro da cidade, como gostava de ressaltar.
Como líder comunitário de grande articulação e mobilização, participou
ativamente do desenvolvimento de Catarina, incentivando, viabilizando,
promovendo e realizando obras e benfeitorias, como a cessão de uma faixa de
terra para o Balneário coletivo, comumente chamado de Banheiro dos homens e das
mulheres, no açude Velho da então Vila, espaço este ainda hoje utilizado como
bebedouro de animais e acesso a pescadores; a cessão de outra faixa de terra
para ampliação do Cemitério público, no começo de 1973; o início do loteamento
em terreno próprio do antigo prado, local de corrida de cavalos, hoje rua José
Pedrosa de Miranda; início do loteamento do atual bairro Vila Holanda, deixando
ao centro a área destinada à praça, atualmente denominada de Praça Virgílio
Holanda Lima; atuação como Juiz Especial de casamentos civis (Juiz de Paz ou Juiz
Ad Hoc) nos períodos de 02/02/1968 a 03/03/1972 e de 30/08/1972 a 20/07/1973; e
participação da luta pela criação do município, em 25/05/1957, emancipando-se
de Saboeiro. Era, por conseguinte, um homem de visão e integrado à
comunidade, buscando efetivamente o desenvolvimento social..
Como político, atendendo a um apelo mais popular, foi vereador na
primeira legislatura, de 1959 a 1962, e vice-prefeito no período de 1963 a
1967, contribuindo bastante para a eleição dos dois primeiros prefeitos, João
Vieira Cavalcante e Lourival Paes de Andrade, respectivamente. Nesse período, o
vice-prefeito era votado, tendo Zequinha Miranda obtido mais votos que o
prefeito eleito Lourival. Nesses mandatos eleitorais, desenvolveu esforços para
o progresso do torrão querido, deixando um legado de abnegação, exemplo e
dedicação, em prol da causa pública.
No início dos anos de 1970, já se encontrava com a saúde
fragilizada, vindo a falecer no dia 23 de outubro de 1973, numa terça-feira,
precisamente às 09:40 h, aos sessenta (60) anos de idade, após um ano e oito
meses de sofrimento. Sua esposa Respecina e os filhos Landry e Maria José
presenciaram sua despedida, seu derradeiro suspiro, oportunidade em que tentou
em angústia escrever uma mensagem ao filho jornalista presente, registrando
apenas a letra “L” no papel. Era o ponto final de uma vida de retidão. Nessa
data, abalaram-se profundamente as estruturas emocionais da sua esposa, que
quase sucumbiu, e de seus filhos e familiares, restando em nós os sentimentos
de gratidão plena e saudade imorredoura, que nos acompanham até os dias atuais.
Finalmente, deixou-nos o nosso inesquecível Zequinha, grande vulto e
referência respeitável em Catarina, que acolhia as pessoas com sua generosidade
peculiar, caridade e firmeza de caráter, virtudes que praticou, com o
testemunho de familiares e de muitos, ressaltando-se também seu modo
afetuoso e, ao mesmo tempo, firme de conduzir a família e de conviver bem com
os munícipes, ao construir consensos e amizades. A propósito, o saudoso José
Deir Mota dissera “o progresso de Catarina a ele muito ficou a dever. Era
considerado pelos amigos e parentes um patriarca, um benfeitor”, em matéria
jornalística de sua autoria “Catarina Sepulta Zequinha Miranda”.
Sem dúvida, José Pedrosa de Miranda esteve à frente de seu tempo! Sua
história de vida foi constituída de muitas conquistas nos campos profissional,
político e pessoal, bem como de muito trabalho e de grandeza interior, deixando
em Catarina uma legião de compadres, comadres, amigos e admiradores e uma vasta
folha de serviços prestados ao povo, em especial, aos mais necessitados.
Efetivamente, ficou conhecido pela sua honestidade, companheirismo, honra,
solidariedade e amor dedicado à sua família e à querida Catarina, tendo
se credenciado, dessa maneira, merecedor do respeito e carinho de todos.
fevereiro de 2013.