O monsenhor Ettore Balestrero em 18 de julho de 2012 (Foto: AP)
O Papa Bento XVI transferiu o monsenhor Ettore Balestrero,
uma alta autoridade do Secretariado de Estado do Vaticano, para a
Colômbia, em meio a especulações da mídia sobre o conteúdo de um suposto
relatório confidencial sobre "corrupção e sexo" na Santa Sé.
O porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, disse nesta sexta-feira
(22) que a transferência era estudada havia meses, trata-se de uma
"promoção" e não tem nenhuma relação com o relatório, que o Vaticano
nega.
Balestreto havia sido nomeado subsecretário do Ministério de Relações
Exteriores do Vaticano em 2009 e, entre outras tarefas, participava dos
esforços para manter o país na lista dos países financeiramente
transparentes.
A imprensa tratou a promoção como uma "queda para o alto", destinada a afastar Balestrero do centro do poder vaticano.
O Papa Bento XVI, que vai renunciar em 28 de fevereiro, nomeou-o embaixador, ou núncio apostólico, na Colômbia.
Os jornais italianos estão especulando sobre o conteúdo do suposto
dossiê, que teria sido apresentado ao Papa em dezembro, preparado por
três cardeais após investigação sobre as origens de vazamentos de
documentos secretos da Santa Sé no escândalo do VatiLeaks.
O mordomo do Papa, Paolo Gabriele, foi punido pelos vazamentos, em outubro passado, e depois perdoado pelo próprio Bento XVI.
O Vaticano se recusou a comentar sobre as matérias da imprensa, que
afirmam que o conteúdo do dossiê teria sido um fator na decisão de
renunciar, anunciada pelo Papa em 11 de fevereiro.
A versão oficial de Bento XVI é de que ele não tem mais "força física e mental" para ser pontífice.
´Lobby gay´De acordo com o jornal "La
Repubblica", a decisão de Bento XVI de renunciar ao Trono de Pedro
poderia ter sido reforçada pela profunda frustração após tomar
conhecimento em outubro de um "lobby gay" no Vaticano revelado pela
investigação secreta dos três cardeais aposentados.
Segundo a
reportagem "´Sexo e carreira, as chantagens no Vaticano por trás da
renúncia de Bento XVI", o cardeal espanhol da Opus Dei, Julian Herranz,
que presidente a comissão, teria relatado antes de 9 de outubro ao Papa o
dossiê "mais escabroso" sobre "uma rede transversal unida pela
orientação sexual". Segundo a matéria, "pela primeira vez, a palavra
homossexualidade foi pronunciada" no apartamento papal.
De acordo com a revista "Panorama", o "lobby gay" do Vaticano "é, de
longe, o mais influente e ramificado entre todos os que existem dentro
da Cúria Romana".
Segundo o "La Repubblica", o relatório
indica que alguns bispos sofreram "influência externa" (chantagem) de
laicos com quem estabelecem laços de "natureza mundana".
Outro grupo se especializa em montar e desmontar carreiras dentro da
hierarquia vaticana e outro aproveita para utilizar recursos
multimilionários para seus próprios interesses à sombra da cúpula de São
Pedro através do banco do Vaticano, de acordo com a publicação, que
descreve nesta sexta-feira "a guerra pelo dinheiro no Banco de Deus".
O Vaticano apontou erros grosseiros neste artigo, afirmando que não
deve ser levado a sério. Não haverá "negações, comentários ou
confirmações" sobre "especulações, fantasias e opiniões" emitidas pela
imprensa neste período, declarou o porta-voz, o padre Federico Lombardi.
De
acordo com o vaticanista do jornal "La Stampa", o Papa, antes de sua
renúncia, receberá os três cardeais. O conteúdo do relatório secreto,
preparado com base em entrevistas realizadas em todos os níveis da Santa
Sé, poderá ser discutido na Congregação Geral, uma reunião que prepara o
Conclave de Cardeais.
Estes três cardeais foram nomeados na
última primavera (hemisfério norte) pelo Papa Bento XVI, após numerosos
vazamentos de documentos confidenciais, mas o relatório deverá
permanecer em segredo.
Em outubro passado, dois dias após ter
recebido o cardeal Herranz, o Papa, em um discurso de tom pessimista na
abertura do Ano da Fé, havia mencionado em forma de metáfora "os peixes
ruins" que são pescados da Igreja.
Segundo os vaticanistas,
os documentos vazados no escândalo "VatiLeaks" poderiam ser usados por
um ou outro para desacreditar um rival na Cúria. Um fenômeno que pode
ser repetido com a proximidade do Conclave, a fim de influenciar a
escolha do novo Papa.
O diretor do canal católico TV2000,
Dino Boffo, surpreendido pelos rumores em documentos do ´"atiLeaks"
sobre relacionamentos homossexuais - que ele negou - pediu na
quinta-feira à Santa Sé que se liberte do "vício infame das cartas
anônimas, sem assinaturas e sem destinatários".
Ele desejou que "todos os fiéis contribuam para pôr fim a uma gestão de poder que pode ofender os mais humildes" dos católicos.
O
tema da homossexualidade no Vaticano não é novo nos meios de
comunicação italianos. Tem sido tema de romances e best-sellers quentes,
às vezes, exagerados. É um fato conhecido dos vaticanistas que os
religiosos e sacerdotes que trabalham no Vaticano têm relações
homossexuais fora do pequeno Estado: uma rede de religiosos, padres e
até bispos homossexuais pode existir, mantendo silêncio. Este grupo
poderia ter sido sujeito a chantagem de jornalistas inescrupulosos que
procuram no "VatiLeaks" obter documentos secretos.
Fonte: G1